foto de: A&M ART and Photos
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um dia perceberás os quês
e os porquês...
… os porquês das minhas correntes de
aço
e os quês...
os quês das minhas tristes mãos de
papel celofane
um dia saberás que todas estas
palavras nunca existiram
que eu não existo e sou apenas uma
invisível mulher filha da madrugada
um dia
quem sabe
perceberás os meus quês e os teus
dela
porquês das sílabas tontas quando
embriagadas nas nocturnas viagens ao infinito
um dia saberás que fui sempre um
covarde de merda
correndo aprisionado a um maldito barco
enferrujado
um gajo doido... que sonha com telhados
em zinco
(vê tu meu amor... telhados em zinco)
palhotas
mangueiras
bananeiras...
pai... o que são machimbombos?
isso não existe
porquês
os quês
como borboletas nas tuas calças de
tecido engomado...
saíamos das cabeças com cobertura de
chocolate
tínhamos os dedos entrelaçados
e os quês
porquês
não sabiam
nós não sabíamos que os homens eram
em granito
e os olhos construídos de sombras
tempestades de aveia
aveia, pai?
querias tu escrever... areia
quero eu escrever
meu filho
aveia... aveia límpida em sexos
murchos depois do cacimbo abalar...
um dia perceberás os quês
e os porquês...
e o que faço eu aqui
esperando o teu insípido regresso
os quês
e o amanhecer dos teus porquês...
um dia perceberás que as nuvens são
de algodão
e as nádegas
nádegas, pai?
não, não meu filho...
que os livros são de palavras loucas
que procuram loucas bocas e apaixonados
lábios...
(eu um homem em fuga
da paixão
do regresso dos quês...
e dos quês... dos porquês...
eu
um homem apaixonado com medo dele
ele... o covarde de merda
de pedra e com olhos de sombras
tempestades de aveia)
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Dezembro de 2013