Descia a calçada de
cigarro na mão.
Empunhava a espingarda
Como se ela fosse uma
canção,
Ou apenas o nascer da
alvorada.
Sentava-se no chão. Desenhava
na algibeira
Lágrimas com a enxada da
vida adormecida,
Subia aos montes e às
montanhas e à ribeira…
A ribeira da vida.
Sentado no chão.
Cruzava as pernas em
direcção ao mar,
Mas o mar era apenas uma
canção,
Uma canção de embalar.
Descia a calçada de
cigarro na mão.
Sentia na garganta a lampejou-lha
dos pássaros envenenados,
Alguém lhe gritava; Alto.
No ar a sua mão.
A sua mão dos dias
envergonhados.
Descia.
A calçada em demanda.
E, escrevia
Com a mão que não anda.
Descia a calçada em
construção.
Puxava de um cigarro que
se alimentava do desejo,
Descia a calçada de
cigarro na mão,
E com a mão se constrói o
beijo…
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 31/10/2021