quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Cordel de sono

 Morreste-me sem que eu tenha escrito no mar

As canções de embalar que deixavas ficar sobre as minhas mãos

E acreditava que os teus papagaios em papel

Eram beijos

Que eu passeava pela rua puxando-os com um cordel de sono

 

Inventava triciclos com rodas de insónia

Enquanto um boneco parvo

Caminhava na minha algibeira

Tenho medo

E não percebo porque este navio sem destino

 

Ainda se passeia pelo corredor

Porque neste corredor

Apenas habitam sombras de ossos

E lábios de dragões envenenados pelo túnel do inferno

E os apitos deste navio

 

Mal respiram devido ao cansaço do fumo

Destes cigarros sem nome

Que transporto no olhar

Morreste-me sem que eu tenha escrito no mar

As tuas súplicas

 

Nas tuas noites de medo

Ouvia-te em sofridos suspiros enquanto desenhava num caderno

As árvores

As minhas árvores que deixei ficar

E apenas os pássaros que dormiam nessas árvores se recordam de ti.

 

 

 

 

Alijó, 16/11/2022

Francisco Luís Fontinha

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