Morreste-me sem que eu tenha escrito no mar
As canções de embalar que
deixavas ficar sobre as minhas mãos
E acreditava que os teus
papagaios em papel
Eram beijos
Que eu passeava pela rua
puxando-os com um cordel de sono
Inventava triciclos com
rodas de insónia
Enquanto um boneco parvo
Caminhava na minha
algibeira
Tenho medo
E não percebo porque este
navio sem destino
Ainda se passeia pelo
corredor
Porque neste corredor
Apenas habitam sombras de
ossos
E lábios de dragões
envenenados pelo túnel do inferno
E os apitos deste navio
Mal respiram devido ao
cansaço do fumo
Destes cigarros sem nome
Que transporto no olhar
Morreste-me sem que eu
tenha escrito no mar
As tuas súplicas
Nas tuas noites de medo
Ouvia-te em sofridos
suspiros enquanto desenhava num caderno
As árvores
As minhas árvores que
deixei ficar
E apenas os pássaros que
dormiam nessas árvores se recordam de ti.
Alijó, 16/11/2022
Francisco Luís Fontinha
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