Espero que os dias
Se esqueçam de mim
Que a luz se extinga
Nas mãos de Deus
Que transporta a noite
E quando tiver a noite
No meu peito deliciado
pelas gaivotas do teu olhar
Vou inventar o sono
Vou erguer-me até que o luar
morra
Nas minhas pálpebras amaldiçoadas
por este triste silêncio
Esta pequena folha que
habita neste meu corpo doente
Espera as estrelas e as
pedras e os rios
Orgasmos de néon poisam
na cidade
Até que me liberto das
abelhas em flor
E das palavras assassinas
que me habitam
Escondo-me
Fujo do poema em cio como
os peixes fogem dos barcos
E dos barcos envenenados
pelo ciúme
Recebo o dia
E transformo-o em delírio
Ouve-me enquanto a cidade
fervilha
E os pássaros filhos da
liberdade
Mergulham na minha sombra
Uma janela onde poiso a
cabeça envenena-se com a saliva
E sou incendiado pela
paixão
Alijó, 16/11/2022
Francisco Luís Fontinha
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