sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O sono

 Invento o sono,

Invento as palavras que me acompanharão

Quando eu for um barco em pequenos voos sobre o mar,

Invento o sono,

Invento as imagens lapidadas e que poisam sobre o meu corpo,

E sem que eu perceba,

Trago ao pescoço uma corrente invisível…

De muitas palavras.

 

Invento o sono,

Sabendo que transporto nas mãos

A caneta assassina das manhãs de poesia,

Invento o sono,

Porque percebi que da noite alimento as minhas dores,

Sabendo que amanhã chove,

Que amanhã uma criança com fome

Irá para a escola carregando uma mochila sonâmbula

 

E prisioneira das pequenas lágrimas de saudade,

Invento o sono,

Queimo todas as fotografias,

Semeio sobre a tua sombra

As lâminas do desejo,

Invento o sono,

Enquanto sobre a mesa da sala…

Uma pilha de livros se despede de mim.

 

Invento o sono,

Invento o prazer carnívoro dos cinzentos pássaros

Que desde a minha infância habitam no meu peito,

Invento o sono,

Puxo de um cigarro,

Disparo a bala de prata que os teus olhos escrevem na maré…

Invento o sono,

Não percebendo que vivo, não percebendo que respiro… inventando o sono.

 

 

 

Alijó, 16/09/2022

Francisco Luís Fontinha

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