sábado, 17 de setembro de 2022

Mão granítica

 Nesta mão granítica

Escondo o feto prometido,

Escrevo ao feto prometido

As palavras que um dia o meu pai me escreveu…

E que eu nunca tive a coragem de ler,

 

Com esta mão granítica

Pinto as tardes de Luanda,

Quando um paquete esfomeado

Poisava no meu peito,

Como se a criança que eu era

 

Deixasse de o ser…

Porque a criança que fui,

Hoje… é um pequeno verme de Inverno.

Nesta mão granítica

Escondo o feto prometido,

 

E aproveito para encerrar as janelas da solidão.

Com esta mão granítica

Disparo as balas da saudade,

Que acabam por adormecer no mar…

E sempre que uma criança chora

 

Esta mão granítica

Revolta-se contra a madrugada.

Com esta mão granítica

Escrevo ao feto prometido

Os poemas das tardes junto à baía de Luanda…

 

 

Alijó, 17/09/2022

Francisco Luís Fontinha

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