Nesta mão granítica
Escondo o feto prometido,
Escrevo ao feto prometido
As palavras que um dia o
meu pai me escreveu…
E que eu nunca tive a
coragem de ler,
Com esta mão granítica
Pinto as tardes de
Luanda,
Quando um paquete
esfomeado
Poisava no meu peito,
Como se a criança que eu
era
Deixasse de o ser…
Porque a criança que fui,
Hoje… é um pequeno verme
de Inverno.
Nesta mão granítica
Escondo o feto prometido,
E aproveito para encerrar
as janelas da solidão.
Com esta mão granítica
Disparo as balas da
saudade,
Que acabam por adormecer
no mar…
E sempre que uma criança
chora
Esta mão granítica
Revolta-se contra a
madrugada.
Com esta mão granítica
Escrevo ao feto prometido
Os poemas das tardes junto
à baía de Luanda…
Alijó, 17/09/2022
Francisco Luís Fontinha
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