Semeávamos o sono no
travesseiro teu corpo, depois abríamos a janela do teu sorriso com fotografia
para o mar, entre as marés teu desejo, a lua poisava nas tuas coxas de infinita
planície que apenas os peixes apaixonados percebem; até ouvíamos os pássaros
quando suspensos no teu cabelo, até percebíamos porque morriam as árvores
depois de envenenadas pelos pequenos lábios de beijo.
O desejo era imenso e o
mar estava tão longe. O teu corpo é uma sonâmbula jangada em algodão que flutua
em redor do escaldante sol, depois, pequenas gotículas de suor alicerçam-se à
tua pele como as finíssimas películas de geada sobre as plantas adormecidas.
Tínhamos as mãos acorrentadas à madrugada como se fossemos dois esqueletos em
aço, como se fossemos apenas sombras de nada descendo a montanha.
Sabíamos que o sono
alimentava o perfume dos teus gemidos quando a noite se embrulhava em ti como
se esta fosse a mão de Deus procurando as esplanadas da solidão que aos poucos
caiam sobre o mar.
Um café e uma torrada,
Ouvíamos os gritos da
enxada prazer desbravando a terra arável que o teu corpo desenhava no meu
peito, e entre pedaços de silêncio, ouvíamos os poemas de um tal Francisco
brincando sobre a secretária da saudade, depois mergulhávamos na tórrida água
do rio que lá longe, entre curvas e montanhas, entre horários desfasados e
conversas de amanhecer, acabava por se esconder na tua alegre mão; não sabíamos
o que a paixão fazia aos peixes, mas sabíamos que a nós, nos transformava em
pedacinhos de papel colorido.
Um café e uma torrada,
alguns livros e sons melódicos de um corpo em combustão.
Semeávamos o sono no
travesseiro teu corpo, depois abríamos a janela do teu sorriso com fotografia
para o mar, entre as marés teu desejo, sem perceber que da madrugada, um dia,
viria o silêncio dos teus lábios, a chuva se abraçava a ti.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 14/07/2022
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