Se me imagino sentado nas
tuas coxas de incenso?
Imagino-o enquanto as
palavras envenenadas pelo desejo,
Quando se suicida a tarde
junto ao mar,
E oiço o silêncio de um
beijo,
Um beijo de amar.
Pode ser também um beijo
de beijar,
Pois no meu jardim,
Junto a mim,
Habitam flores em delírio,
Flores com sombra de Luar.
Se me imagino?
Imagino-me sentado
Nas sílabas imbecis do
poema escrito por mim,
Quando na minha mão,
Números e equações de
miséria,
Acreditam que as palavras
de uma canção,
A minha canção,
São apenas nadas, artéria
Ensanguentada dentro
desta cidade,
Dentro deste cubo de
vidro martelado.
Sinto-me prisioneiro às
árvores da madrugada,
Árvores habitadas por pássaros
que infelizmente, não sabem nada,
Não sabem que as pedras
amam outras pedras,
Que outras pedras podem
amar as flores,
E estas, amar outras
flores,
E outras flores, amarem
outras manhãs,
Manhãs que amam outras
noites,
Noites que amam as
pedras:
Poemas meus, que não
amam,
Desenhos que me amam,
E,
Palavras que me odeiam.
Que todos amam a Lua e o
Luar,
Que a Lua não ama nada,
Ninguém,
Nem ao primeiro astronauta
que lá poisou,
As flores também amam a
Lua e o Luar,
Os pássaros amam a noite,
Porque dormem e sonham,
Porque o amor é um verso,
Um poema enorme,
Que vive junto ao mar.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 20/11/2021
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