terça-feira, 16 de novembro de 2021

Equação das paixões

 

Sentimos e sentamo-nos

Sobre a equação das paixões.

Percebemos que depois de uma equação morrer,

Tal como as palavras do poema,

Apenas permanece a sombra,

E a saudade.

Da saudade,

Tenho saudade,

Do poema, das palavras do poema,

Odeio-os,

Como odeio os pássaros no Inverno,

Que podiam estar recolhidos, junto à lareira e,

Voam estupidamente junto às árvores.

Dos rios,

Tenho a saudade do vento junto à ponte pedonal,

Quando eu criança,

Brincava com um papagaio em papel;

A minha mãe,

Desenhava e construía papagaios em papel,

Que voavam sobre uma Luanda longínqua,

Sombria hoje,

Sombria, para mim, ontem.

O poema posso assassinar diariamente,

Quanto à saudade,

Essa,

É impossível de assassinar.

Na equação das paixões,

Pareço um sonâmbulo quando brinca

Com uma nuvem adormecida,

Que o professor,

Por falta de tempo,

Esqueceu na ardósia da manhã.

Quanto à saudade,

Essa,

Nunca se esquece,

Nunca se apaga na memória do poema;

Dorme, às vezes,

Revolta-se, outras vezes,

Mas é impossível de apagar,

Assassinar,

Ou mesmo ela,

Se suicidar contra a janela do silêncio.

A saudade, tenho-a,

Muitas.

A saudade é uma roda dentada,

Que nunca se esquece do mar.

E no mar,

Vive a saudade.

E no mar,

Habitam todos os poemas de ninguém.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

ESTiG, Bragança, 16/11/2021

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