Ouve-me
A cada sílaba suicidada
Na madrugada,
Senta-te
Em mim
Em cada rua
ensanguentada,
Puxa pelas palavras
assassinadas
Como puxas o cigarro
enforcado
Na sombra das esplanadas.
Beija-me
Quando a sombra se traveste
de dia
E,
Do dia travestido
Acorda o poema amarrotado
Pelo desejo
Vestido
Na mão de um drogado.
Escolhe o pecado
Vive-o
Como se ele fosse o
amanhecer,
Senta-te
Escreve
E não te canses de viver.
Deus construiu o sono
Nocturno
Dos pássaros embriagados,
Não sei, nunca o saberei…
Porque Deus me obriga a
habitar
Um cubículo sem janela
Para o mar
E, e sem cortinados.
Oiço-o enquanto conversa
Com a raiz quadrada do
silêncio,
Multiplica-o pela
derivada do desejo,
Eleva o resultado ao cubo,
E,
Nada; fico com nada.
Deus, não sabe matemática,
Não é poeta…
E,
E odeia-me desde que
nasci.
Sou obrigado a mendigar
As palavras de amar,
As outras,
As palavras de desejar,
E, e depois,
Nasce o beijo,
Cresce na tua boca o
poema beijar,
Como se a neblina
Descesse a encosta dos
teus seios,
Logo pela manhã,
E Deus,
De cabeça azulada,
Escreve no meu
quadriculado;
Amanhã,
Amanhã traz a enxada,
Cava a terra e,
E saberás que que zero é
igual a um.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 12/09/2021
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