Lembras-me as
jangadas de incenso nos braços de uma amada,
há dentro desta
casa uma cancela em madeira,
uma cerca de prata,
lembras-me as
sílabas com odor a madrugada,
numa cama onde
habitam dois corpos embrulhados em azevinho,
há uma arca cerrada
com cadeados de luz,
lá dentro,
cartas... cartas vestidas de cinza,
migalhas,
seios de verniz
suspensos no espelho das tuas pálpebras de alecrim...
lembras-me as
jangadas com velhos bancos revestidos a amanhecer,
uma Lisboa
apaixonada por transeuntes embriagados, loucos... e marinheiros de
palha,
lembras-me uma
cidade com vidros de papel,
E migalhas...
lembras-me as flores
deitadas no teu peito,
um cigarro a
arder..., um cigarro sem jeito nos lábios dos marinheiros de palha,
lembras-me os poemas
por escrever,
quando havia no teu
corpo pedaços de borboletas e canalha a brincar...
lá dentro,
cartas... cartas vestidas de cinza,
e... e migalhas,
lembras-me as tardes
sentado a desenhar o Tejo na minha mão,
inventava barcos de
cartão,
inventava gaivotas
com bolas de sabão,
lembras-me...
lembras-me o
silêncio das jangadas de incenso!
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 2 de Agosto
de 2014
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