foto de: A&M ART and Photos
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Estranhamente deixei-o partir
libertei-o como se libertam os pássaros
depois de cansados
estranhamente deixou de existir
como todos os abraços que a tempestade
do silêncio deixa fluir
estranhamente apaixonados
como as ervas daninhas das ruelas
inclinadas do desejo
estranhamente vi-o sorrir
como se apenas houvesse uma clareira no
cimo da montanha dos tristes luares
estranhamente construí o beijo
e o medo dos lugares
e o medo à noite com palavras de cetim
quando escrevíamos poemas sentados num
simples banco de jardim,
Estranhamente só
porque as flores deixaram de crescer
porque a madrugada sem dó...
… estranhamente cansou-se de
escrever,
Estranhamente magoado
desenhei cossenos nos cortinados sem
coração
vi o mar em círculo fechado
estranhamente amado
como os barcos loucos das sílabas de
uma canção
estranhamente triste e apaixonado e
inventando poemas de açúcar
no meu corpo pesado
no meu corpo de amarrar
estranhamente as árvores morrem na
insónia de um cinzeiro de latão
entranhando-me nos cigarros velhos de
fumar
estranhamente dentro da solidão
imagino-me voar em nuvens de carvão...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 22 de Fevereiro de 2014
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