foto de: A&M ART and Photos
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tínhamos medo do sono e inventamos o
desejo
aprendemos a abraçarmos-nos enquanto
lá fora rodopiavam as moléculas de suor dos teus olhos
e havia sempre uma lâmpada ténue nas
pálpebras da solidão
tínhamos nas nossas bocas imundas os
doces triângulos das planícies apodrecidas
e do relógio suspenso na parede da
sala um fio esguio de seiva mergulhava nas entranhas da terra
ela era queimada
recheada de fendas
e marés embrionárias
as crianças brincavam na palma da mão
da inocente manhã acabada de acordar
estávamos livres do sono
e pertencíamos às tristes janelas sem
literatura viradas para o Tejo
ouvíamos os órfãos comboios guinarem
na próxima curva do teu corpo
segurava-me a ti e sentia-te na ponta
dos dedos
percebia que usavas um corpo
esquelético
belo
como as rosas dos jardins públicos da
cidade das insónias de papel
tínhamos descoberto o medo do medo
e não tínhamos as palavras para
escrevermos nos muros da calçada
“amamos-nos”
tínhamos medo das nossas próprias
bocas
e do nosso uno abraço de saliva
fugíamos da noite sabendo que havia em
nós uma corrente de aço invisível que nos acorrentava enquanto a
lua vomitava versos orgias em pequenos telhados de sémen
tínhamos
… “amamos-nos” provavelmente...
sim
não sabemos se o éramos depois de
romper a madrugada
e no entanto sentíamos as asas dos
plátanos envelhecidos
poisarem nos nossos corpos húmidos em
pequenas fatias de paixão
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 1 de Novembro de 2013
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