foto: A&M ART and Photos
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Sabia que te escondias na sombra de uma
locomotiva louca
entre carris imaginários
e praias de incenso sobre tingidas
nuvens amarguradas
sabia e não fazia nada
deixava-te sombrear nas planícies
rebeldes da solidão,
Inconstante este amor que os comboios
deixam nos socalcos ao rio doirado
milagrosamente só como sandálias de
couro e pingos de espuma
e o mar transpirava
e quase me levava até à pedra onde te
sentavas
só como eu só nas locomotivas loucas,
Sabia que te escondias... louca
entre cartas invisíveis nas palavras
famintas
sabia-o e nada fazia para te resgatar
da ausência que a saudade constrói nos sorrisos de amendoeira
e olhava-te como uma louca locomotiva
em movimento
procurando sombras que o rio Douro
vomitava...
Tínhamos um mala simples com objectos
simples com destinos diferentes
eu sabias que me transportava para Sul
e tu
tu fingias transportares-te para Sul
obliquamente sabendo-o que irias para Norte
opostamente de mim como uma serpente
envenenada,
Hoje somos apenas dois cadáveres de
areia que o tempo
semeia sobre a água salgada onde se
escondem os teus seios de cereja
e brincam as tuas coxas como livros em
poesia depois de lidos relidos e transcritos
pela louca locomotiva
de uma imagem a preto-e-branco...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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