Do amor das palavras os rios de insónia
nas viagens sobre a aldeia de xisto
com janelas de amêndoa e telhados de chocolate
os cigarros imaginários que caminham no corredor da morte
sinto-os
sinto-os encostados às portas do sofrimento
quando o mar da paixão morre entre os degraus e não consegue poisar no sótão
sinto-os em sussurros
nos gemidos da noite obscura
o corpo nu da mulher embrulha-se nas paredes de gesso
construídas com migalhas de livros
e velhas sílabas pertencentes a poemas mortos
os pássaros cheiram a tinta acrílica
e as abelhas fogem pelas frestas como olhos de vidro
que vivem nas paredes de gesso do sótão de areia
do amor
apenas silêncio
do amor
apenas noites acorrentadas a rios de insónia
as pedras e os livros e as mãos da mulher nua suspensa nas paredes de gesso
do amor
e todos os pássaros em direcção ao mar da felicidade
as pedras e os livros e os lábios da mulher nua
e o mar da paixão
apenas silêncio
e a minha vida
uma rua de uma cidade morta
uma rua nua e escura
sem saída
amarga no chão semeado de mangas
e o céu pintado de capim
(E espero pacientemente que a cidade de Luanda me engula
como engoliu o meu chapelhudo
e o meu triciclo
e todos os meus sonhos).
(Poema não revisto)
Sem comentários:
Enviar um comentário