segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Instantes

 

Somos instantes

Palavras esquecidas na lápide da vida,

Somos poema,

Somos canção,

Somos instantes

Até no acto da despedida,

 

Somos destino,

Somos equação,

Somos palavras esquecidas

No uivo do foguetão,

Somos instantes,

Somos palavras perdidas.

 

Somos instantes,

Maré em revolução,

Somos palavra,

Somos equação,

Somos instantes,

Instantes da nação.

 

Somos verso.

Somos instantes na equação da vida.

Somos escada, alvorada,

Somos instantes

Na boca da madrugada;

Somos instantes do pequeno nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 10/01/2022

domingo, 9 de janeiro de 2022

Flor de sémen

 

Dentro deste silêncio

Que abraça os rochedos nocturnos da insónia

Habita uma flor de sémen

Que caminha na montanha

Sem perceber que a cada luar

Há uma nuvem de medo

Para cada mão de solidão

Na espera de um abraço.

 

Na espera de um beijo.

Uma flor de sémen

Cansada da viagem

Descendo ravinas

Até poisar junto ao mar;

Em cada flor de sémen,

Uma equação de saudade

Levita sobre as sanzalas da infância.

 

O desenho da cidade

No pavimento térreo

Quando caia a chuva

E se erguia na planície

O despertar da manhã.

Em cada flor de sémen

Uma simples vibração;

Até que os pássaros se despedem da Primavera.

 

 

Alijó, 09/01/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Equações de sono

 

Trazias no corpo

Os parêntesis rectos da insónia;

Das palavras às equações do sono,

Triste esta argamassa de cansaço,

Quando o espaço é uma sombra de nada,

Quando o nada…

É cansaço.

Canso-me porquê?

 

Tenho amor,

Tenho comida,

Tenho um tecto onde me esconder;

 

Pior do que eu

Vive a formiga,

Trabalha, não tem palavras para escrever,

Não tem flores para amar.

 

Pior do que eu,

Habitam os pássaros dentro mim,

Não se cansam de cantar,

Não têm medo de escrever,

 

Trazia no corpo

O silêncio de uma noite mal dormida,

O poema em devastação,

Oiço nas tuas palavras,

O mar em suicídio,

Como qualquer homem de coragem;

Porque, acredita, para te matares tens de ter muita coragem…

E felizmente, eu sou um covarde.

 

Um covarde que acredita na vida,

Um covarde com palavras para escrever,

Um covarde quase licenciado na arte de amar…

Na arte de adormecer.

 

E da arte crescem palavras,

Números e equações de sono,

Rolamentos,

Chumaceiras,

Correias e volantes,

E tantas outras doideiras.

 

(Pior do que eu

Vive a formiga,

Trabalha, não tem palavras para escrever,

Não tem flores para amar).

 

 

 

Alijó, 04/01/2022

Francisco Luís Fontinha