quarta-feira, 24 de maio de 2017

Os dias falhados


Os dias passados

Esqueleticamente abraçados aos dias sofridos

Quando bem lá no alto das montanhas cansadas

Os dias argamassados aos dias coloridos…

 

Safados.

 

Os dias perdidos na esplanada do adeus

Quando sobre uma pobre mesa de sombra, um livro, voa nos dias premeditados

Por uma lâmina finíssima de luz…

Os dias entre dias,

Os dias encalhados nos petroleiros da fortuna…

Os dias revoltados

Com a forma circunflexa do sangue perfumado,

O dia apaixonado,

Ou coisa nenhuma…

Os dias as mãos e as mãos dos dias,

A forca dos dias desesperados

Numa árvore dispersa na alvorada,

Há dias assim,

Como hoje,

Dias de alecrim,

Dias de clarinete…

E assim,

Os dias dos relógios moribundos,

Meu Deus! Meu Deus, tantos mundos…

Com dias,

Sem dias,

Cem dias dispersados pelas tristes avenidas dos dias desalmados,

E eu, minha querida, por aqui… brincando com os teus dias…

Os dias sem melodia.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Maio de 2017

sábado, 20 de maio de 2017

Cartas sem remetente


Nas asas do teu ventre construi caminhos incertos,

Percursos amestrados suspensos na solidão de um bar,

Um copo explode, e morre nos meus lábios…

Ai como eu gostava de pernoitar nos teus olhos verdes!

Escrevia cartas sem remetente,

Palavras sem significado,

Abstractas cidades nos rochedos da morte,

Quando as ruas absorvem as pontes da liberdade,

Amar-te-ei?

Não o sei…

Regressa a noite ao teu sexo,

Funde-se no luar a escuridão das tuas coxas,

E o poeta desalentado, morre, parte para o infinito,

Sinto no teu perfume a fragância da manhã,

Levanto-me tardíssimo, ao pôr-do-sol…

A voz levita nos planaltos da inocência,

Vive-se caminhando na tua sombra doirada,

Uma varanda de néon com vista para o jardim,

Vive-se no insignificante sorriso da distância,

Lá longe, aí vem o levante sonolento homem da infâmia…

E esconde-se na tua pele.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 20 de Maio de 2017