sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Criança desalmada


O fantasma espelhado da tua voz
caminhando na lareira do desejo
um cortinado de luz em direcção ao nada
tristes são as tuas palavras
acorrentadas ao silêncio
o falso destino
as imagens melódicas dos teus lábios
voando no vulcão da saudade
e da cidade regressam a mim os tentáculos espinhos de aço
que se alicerçam no meu peito...
a dor imaginária quando sei que a tua sombra se confunde com a madrugada
ainda por nascer...
criança
criança desalmada
criança flor no jardim em chamas...
o fantasma espelhado...
alimentando todas as sílabas do cabelo invisível
palmilhando montanhas e searas nocturnas
subindo as escadas do sótão sem coração
e embriagado
beijo
o teu
o primeiro...
o último
fim...
fim...
como a vida de um homem nas margens de um rio.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 7 de Novembro de 2014

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Poema vencido


Sombreados lábios
no pincelado amanhecer
tristes searas de incenso
sem vontade de crescer
imenso Oceano mergulhado na minha mão
concubina solidão vagueando na ruela sem saída
é esta a minha vida?
duzentos e seis ossos sem comida,
oiço os teus seios na escuridão do meu silêncio
brinco sob as mangueiras de um País distante
cheiro o orgasmo do poema vencido
é esta a minha vida?
um emaranhado farrapo esquecido na espingarda do soldado...
um... um cigarro apagado...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 6 de Novembro de 2014