sábado, 17 de maio de 2014

beijo feitiço


há um beijo feitiço nos teus lábios de saudade
há uma flor adormecida em tuas mãos
a penumbra manhã quando finge olhar-te
e desiste
há um biombo de ânfora perdido nas tuas pálpebras
e o beijo feitiço
voa como as palavras do poeta
nos seios de uma folha amarrotada,

há um beijo feitiço numa boca inventada
há uma menina traquina
há uma menina apaixonada...

há um beijo feitiço disfarçado de madrugada
estrelas em papel aprisionadas na mão da menina traquina...
há uma casa sobre uma árvore
com o nome de paixão
há um beijo
há um despedaçado coração
no feitiço
do beijo desejado.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014
(ao som do Planeta3)

tentáculos da saudade


sentei-me sob as lágrimas de ti
e fiz-me marinheiro do amor
corri
ouvi...
e escrevi
todos os sorrisos da tua flor,

voei nos teus cabelos de solidão
desenhei-te poemas sem sentido
fui um transatlântico anão
oceano nocturno dentro do teu coração
sou um homem esquecido na tua mão
sou um pequeno cortinado de veludo no vento perdido,

sentei-me sob as lágrimas de ti
e hoje pareço uma rua sem saída habitante de uma triste cidade
vivi
e senti
(os cansaços que o xisto absorve depois das miudinhas gotículas do desejo)
e vi...
o regresso da saudade.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014

falsos sorrisos


vendem-se falsos sorrisos
conquistam-se corações de espuma
que se embrulham em impregnados livros com sabor a solidão
escrevem-se falsas palavras
no corpo da insónia

desenham-se círculos nos seios da madrugada
choram as meninas do amanhecer
há rosas envenenadas
há rosas com vontade de morrer...
vendem-se falsos rios e falsas caravelas

vendem-se cidades de vidro
com ruas de porcelana
e corpos de nada
e corpos... e corpos de néon marinheiro
nos seios da madrugada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014