sábado, 1 de fevereiro de 2014

Uma cabeça

foto de: A&M ART and Photos

Uma cabeça voa nas esferas transversais da paixão,
pausa, recomeça num ritmo desenfreado como se fosse uma gaivota na roda da solidão, chove,
dormes fingindo que sonhas, e sonhas... fingindo que as mãos do desejo existem como existem... como existem as árvores, como existem os pássaros... pássaros, como existem as nádegas tuas nas cansadas geadas,
oiço e sinto-te quando caminhas no corredor da escuridão, trémulo, estonteante, como um vagabundo em busca de moedas esquecidas nas madrugadas do adeus, e chove e ris-te como se eu fosse o teu único espelho das manhãs sem sentido,
uma cabeça, uma cabeça regressada do infinito espaço das arcadas sem janelas,
os pássaros, os malditos pássaros, a loucura, a eterna loucura quando imitas os pingos Invernais da chuva,
hoje chove,
hoje parecias triste, ausente... um ninguém... sem cabeça, ela voa, ela parece um pássaro à porta de entrada do pólipo envenenado, hoje, hoje chove e tu, e tu... uma cabeça voa nas esferas transversais da paixão,
não dormes,
não comes... mentes,
e acreditas nas palavras que escrevo quando eu nunca escrevi nada, nada, nada do que tu percebas, do que tu entendas, porque eu, eu... sou uma cabeça que voa, que voa, voa... da paixão,
e na paixão adormeceu... e da paixão... morreu.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 1 de Fevereiro de 2014

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Alienado coração de gelo

foto de: A&M ART and Photos

O absorto corpo teu imaginado pela louca espuma do mar,
há no silêncio pardas palavras e sons melódicos, ou tristes... há no silêncio os poéticos sonhos da ejaculação precoce,
o absorto corpo que mergulha na minha mão, não existe, não chora... e não grita,
o silêncio reparte-se sobre as pedras calçadas do abismo...
e o salário do poeta bebe-se nas almofadas coloridas que as nocturnas noites deixam sobre a pele...,
sei,
o absorver-te enquanto uma varanda balança na tempestade madrugada que da boca saciada acorda quando os electrões da cidade correm em direcção aos rochedos teus abraços,
sei, agora..., sei que as tuas janelas são tão frágeis como as finas folhas em papel onde invento desenhos sem palavras, as descoloridas manhãs, os cortinados doentes que deixam o sorriso do Sol atravessar a negrume sílaba da canção da saudade,
sei que te queixas do alienado coração de gelo,
das nuvens com olhos envernizados,
dos tapumes que não te deixam observar o meu corpo... o absorto corpo teu imaginado pela louca espuma do mar...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2014
Poema de Francisco Luís Fontinha em destaque no Sapo Angola: Blogue Cachimbo de Água.