terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Cabelos de vento

Não saberia esquecer-te se eu pudesse recordar-te, saciar-me com a tua boca quando nada alimenta as manhãs de Inverno, eu, invento o tempo, o dia, desenhando a noite no teu corpo ensonado, procuro-me misturando a insónia com os delírios das palavras incandescentes, húmidas quando derretidas nas planas pistas de veludo onde dormes eternamente, e esperas-me, e escreves-me livremente nas paredes da solidão liquefeita, e uma asa de papel vai esconder-se dentro de uma nuvem de prazer,
(começo a não perceber o que escrevi apressadamente num pedaço de papel sobre os joelhos),
Esqueço o orgulho, escondo a tristeza, pego no telemóvel e marco o teu número, uma voz de chocolate diz-me que...
O número que marcou não se encontra atribuído,
E eu, começo, a cada milímetro que me aproximo do rio, a acreditar, a acreditar que afinal
Nunca exististe, tal como eu, que pertenço aos assombrados murmúrios das distantes letras de sabão, inventaste-me louco para te distanciares de mim, inventaste-me a miserabilidade pela mesma razão da loucura, e depois queres fazer-me acreditar
Que a lua é quadrada, que as pedras são as lágrimas das estrelas, e que o mar, e que o mar vive num buraco com grandessíssimas hélices de vidro, como o amor, clandestino, debaixo de uma árvore, ao lado da árvore vive uma casa, dentro da casa uma mulher com cabelos de vento, e dentro dos cabelos de vento
(começo a não perceber o que escrevi apressadamente num pedaço de papel sobre os joelhos), o número que marcou não se encontra atribuído, e depois querem fazer-me acreditar que a noite é negra, que as cidades têm ruas sem saída, e que nas calçadas habitam pedaços de cartão onde se embrulham homens, mulheres, crianças
Pode lá ser possível,
E dentro dos cabelos de vento uma gaivota com lágrimas de Primavera traz-nos livros que o cacilheiro náufrago derramou sobre o Tejo, poemas, frases, palavras sem nexo como as árvores do quintal de Carvalhais, coisas, poucas, algumas, o sangue derramado na secretária imaginária que a mulher com cabelos de vento
Dentro da casa, uma cadeira, duas mesas de madeira, dois tristes corações com lâmpadas de halogéneo, do electrocardiograma nada a salientar, normalíssimo, o RX pulmonar apenas algumas sombras, provavelmente devido ao dia com alguma nebulosidade, como as janelas quando vêm as marés de azoto e roubam do parapeito os discretos vasos de cerâmica, (Nunca exististe, tal como eu, que pertenço aos assombrados murmúrios das distantes letras de sabão, inventaste-me louco para te distanciares de mim, inventaste-me a miserabilidade pela mesma razão da loucura), e hoje apetecia-me um Sábado louco sobre a mesa de uma cave no interior de uma ruela escura, suja e imunda, como os navios regressados de ontem,
Perdi-me nas clareiras tuas faces pontiagudas, e dos alicerces teus lábios, uma corrente de aço não me deixa aproximar, e quando me perguntam o que tenho a declarar, respondo
Nada, Excelência, apenas que se faça justiça,
E assim foi,
(Não saberia esquecer-te se eu pudesse recordar-te, saciar-me com a tua boca quando nada alimenta as manhãs de Inverno, eu, invento o tempo, o dia, desenhando a noite no teu corpo ensonado, procuro-me misturando a insónia com os delírios das palavras incandescentes, húmidas quando derretidas nas planas pistas de veludo onde dormes eternamente, e esperas-me, e escreves-me livremente nas paredes da solidão liquefeita, e uma asa de papel vai esconder-se dentro de uma nuvem de prazer),
Qual será a raiz quadrada do AMOR?

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

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(Sapo Angola)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Os nossos delírios anseios

Das raízes dos teus olhos, há o vento campestre, triste, e ausente, há as campânulas de silêncio embainhadas nos sabres lentos da insónia, há, havia ontem palavras por escrever, escritas depois da montanha em sonolência começar a descer, a descer, a descer como descem os corpos embalsamados que poisam nos jardins sem secretismos lábios em beijos, ou
Os nossos delírios anseios,
Os bolos de chocolate sobre a mesa na sala, deixamos de ter iluminação artificial, por opção própria, a mesa espera pacientemente pelo regresso dos convidados ossos com chapéus de pólen, uma criança, a filha da Alice, insignificante sorriso com espinhas e restos de morango, ela dança, ela está alegre, e porquê?
Apenas
Talvez
Ainda não percebi se o faz por ser louca, indesejada, ou, ou porque amanhã vai receber das mãos do tio Augusto um livro de COLETTE “GIGI”, está lindíssima a mulher da capa a olhar para as janelas? Da cidade em desalinho, a elegância das palavras, dos sons, dos automóveis camuflados de ervas daninhas,
(não sei se conseguirei sorrir depois de ler o jornal)
Uma tristeza em desenhos alicerça-se no meu peito, uma mulher com cabelo preto e lábios elegantes, lança-me um corda com inúmeros nós, muitos, infinitos, como os anzóis que o rio come e depois acordam debaixo das pedras pintadas de fresco
“CUIDADO – PINTADO DE FRESCO”
Distraidamente, sempre eu distraidamente, sento-me no alegre banco de jardim acabo de nascer, as ripas de madeira como se existisse entre eu e elas um pedaço papel-químico, transportam-se para as minhas agastadas calças de ganga, velhíssimas, e robustas, como os petroleiros que atravessam o Tejo e depois acabam por se esconder num qualquer bar de uma ruela inconsciente da Lisboa perdida numa simplificada folha de papel, queixavas-te dos sons nocturnos das asas em voos rasantes das gaivotas embrulhadas em fome, sede, e falta de dinheiro,
Ouviam-se os sucessivos suicídios dos cigarros de enrolar contra os rochedos,
Como as árvores quando desistem de viver,
“CUIDADO – PINTADO DE FRESCO”, (NÃO SEI SE CONSEGUIREI SORRIR DEPOIS DE LER O JORNAL), e ela acredita na ressurreição,
GIGI olha-nos, GIGI grita-nos, GIGI deita a cabeça no teu colo construído de verdes e iluminados pensamentos como uma candeia a petróleo que encontramos dentro da parede da cozinha, quando, alguns meses antes da nossa partida, no interior da espessa parede de xisto ela esperava pelo teu sorriso, e pergunto-me
Porque todos e todos necessitam do teu sorriso apenas meu? (saberá uma rosa o que é o amor e o quanto ele é fodido?), e
E,
(Das raízes dos teus olhos, há o vento campestre, triste, e ausente, há as campânulas de silêncio embainhadas nos sabres lentos da insónia, há, havia ontem palavras por escrever, escritas depois da montanha em sonolência começar a descer, a descer, a descer como descem os corpos embalsamados que poisam nos jardins sem secretismos lábios em beijos, ou), ou GIGI transformar-se-á em estrela de luz com olhos de papel de muitas cores, ou, eu, com mandíbulas de aço inoxidável roubo a lua
Ofereço-te-a,
Ou
E,
Peço aos trapezistas das noites ausente de ti, e procuro-me dentro do teu corpo liquefeito, que a fórmula da paixão escreve-se nos muros finos e altos entre os edifícios da cidade velha, há ruas com reumatismo e ensonadas com pingos de asma, há ruas com dores diversas nos diversos ossos em diversas noites, de diversos dias, quando as semanas se escoam como líquidos termodinâmicamente estáveis, e sinceros na esbelteza das asas de cartolina de uma mulher escondida numa das ruas anteriormente descritas, como as ratazanas, e há ruas como há pássaros, há crianças como há cadáveres, na minha nossa velha cidade com telhado de areia,
E procuro-me no interior de um círculo de coxas com cubos de púbis, geometricamente a manhã acorda só para nós, mas ambos sabemos que a falsidade habita no exterior de uma janela de vidro, sobre um telhado de zinco, no quinta juntamente com pedaços de capim, húmidas pedras em húmidos orgasmos entre as palavras e os desenhos pintados nos teus seios de amêndoa,
Ou
E,
“CUIDADO – PINTADO DE FRESCO”,
(E procuro-me dentro do teu corpo liquefeito, que a fórmula da paixão escreve-se nos muros finos e altos entre os edifícios da cidade velha, há ruas com reumatismo e ensonadas com pingos de asma, há ruas com dores diversas nos diversos ossos em diversas noites, de diversos dias)
Como o amor das rosas em papel.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha