sábado, 24 de dezembro de 2011
Aos poucos
Aos poucos
Fogem de mim as palavras
E morrem todos os sonhos
Aos poucos cessam em mim os rios e as montanhas
As árvores e os pássaros
Aos poucos
Escondem-se no mar as cinzas do meu corpo
E dos meus olhos os ramos da madrugada
Onde suspendo a minha cabeça
Aos poucos
Morro em cada pedacinho de silêncio
Nas linhas cruzadas de uma amarrotada folha de papel
Onde embrulho as lágrimas da noite sem estrelas
Aos poucos
Fogem de mim as palavras
E as cores dos meus sonhos travestem-se de negro
Nos muros clandestinos da saudade
E aos poucos
Sinto que desapareço no interior do fumo da tarde
Antes de adormecer
Depois de me olhar ao espelho
E no meu rosto pequeninos grãos de areia
E nas minhas mãos
E nas minhas mãos fatias de xisto
E migalhas de tristeza
Sobre a mesa de um jantar inventado
Fogem de mim as palavras
E morrem todos os sonhos
Aos poucos cessam em mim os rios e as montanhas
As árvores e os pássaros
Aos poucos
Escondem-se no mar as cinzas do meu corpo
E dos meus olhos os ramos da madrugada
Onde suspendo a minha cabeça
Aos poucos
Morro em cada pedacinho de silêncio
Nas linhas cruzadas de uma amarrotada folha de papel
Onde embrulho as lágrimas da noite sem estrelas
Aos poucos
Fogem de mim as palavras
E as cores dos meus sonhos travestem-se de negro
Nos muros clandestinos da saudade
E aos poucos
Sinto que desapareço no interior do fumo da tarde
Antes de adormecer
Depois de me olhar ao espelho
E no meu rosto pequeninos grãos de areia
E nas minhas mãos
E nas minhas mãos fatias de xisto
E migalhas de tristeza
Sobre a mesa de um jantar inventado
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Ilhargas do infinito
No fim da rua sem saída
Uma mesa e quatro cadeiras esperam por mim
Um rio amarrotado nas ilhargas do infinito me alcança
Como se eu fosse um pássaro doente
Ou uma criança
Como se eu fosse a sombra do jardim
Quando me olha e mente
E ao espelho da noite vejo a minha vida
Sem vida
No fim da rua sem saída
Três vultos invisíveis deitados na calçada
Antes de adormecerem
Fingindo viver
Viver sem madrugada
Fingindo sentados nas três cadeiras
À roda de uma mesa ensonada
Sem vida no fim da rua
Sem saída
Sem nada
Uma mesa e quatro cadeiras esperam por mim
Um rio amarrotado nas ilhargas do infinito me alcança
Como se eu fosse um pássaro doente
Ou uma criança
Como se eu fosse a sombra do jardim
Quando me olha e mente
E ao espelho da noite vejo a minha vida
Sem vida
No fim da rua sem saída
Três vultos invisíveis deitados na calçada
Antes de adormecerem
Fingindo viver
Viver sem madrugada
Fingindo sentados nas três cadeiras
À roda de uma mesa ensonada
Sem vida no fim da rua
Sem saída
Sem nada
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
As insónias do senhor Frutuoso
Dogma House
Leeuwarden, Netherlands
Um dia perceberás que esta casa não me faz feliz, que o dinheiro também não me faz feliz, um dia, um dia perceberás,
- Porquê Frutuoso?,
E tenho Insónias no casebre na montanha junto à ribeira como as terei certamente nesta casa, e um dia, um dia perceberás que cresci assim,
- Assim Miserável?,
Miserável dizes-me tu quando vem a noite e o silêncio ausenta-se de mim e não há dinheiro que chegue nem esta casa para trazerem-me de volta o barulho das palavras contra a mesa-de-cabeceira, ou quando abro a janela do casebre e ao longe vejo as nuvens docemente e sem pressa na minha direção, e ao longe o acenar de um petroleiro que desce o tejo até às profundezas da noite, a minha garganta abre-se e sinto o cheiro do inverno a degolar-me antes de adormecer, Percebes?
- Não Frutuoso Não percebo,
Um dia perceberás que esta casa não me faz feliz, que o dinheiro também não me faz feliz, um dia, um dia perceberás,
Que cresci habituado a meia dúzia de moedas na algibeira e com a cabeça recheada de sonhos, e com a cabeça sempre suspensa nas árvores quando caminho,
- Sim Frutuoso Quando caminhas…,
Quando caminho desesperadamente só e sobre o meu peito escrevem-se as lágrimas da solidão, e o sorriso das mangueiras não me deixam adormecer, e o meu triciclo às voltas e às voltas e às voltas na sombra das mangueiras,
- Porquê Frutuoso?,
E o meu quintal começa a inchar e ergue-se em direção ao sol, e chove, descem piedosamente finíssimas gotas de suor de um corpo mergulhado em desejo, o algodão doce que um cigano tenta impingir a miúdos distraídos evapora-se entre as sandálias do vagabundo e os anéis de um miserável,
- Um daqueles peneirentos que acredita que ter dinheiro é ter tudo?,
Acreditar não, É a verdade e tu sabes isso Um dia perceberás que esta casa não me faz feliz, que o dinheiro também não me faz feliz, um dia, um dia perceberás,
- E o que te faz feliz?,
Só o saberei depois de me explicarem o que é a felicidade, quando caminho desesperadamente só, às voltas na sombra das mangueiras e o cigano às apalpadelas nas sandálias do vagabundo quando percebe que o peneirento lambe o algodão que sobejou junto aos anéis,
- Não Frutuoso Não percebo,
O miúdo distraído choraminga ao imaginar o petroleiro que desce o tejo até às profundezas da noite, a garganta do miserável abre-se e o cheiro do inverno a degolar insónias antes de adormecer, Percebes?
- Não Frutuoso Não percebo,
Nem eu.
(texto de ficção)
Barco fantasma
Há um barco estacionado no infinito
Pacientemente à minha espera
Há um barco com asas
E sorriso nos lábios para me levar
Há um barco zarolho
E com os braços a sangrar
Desejos nas paredes de vidro
Impaciente para me levar
Há um barco estacionado no infinito
Com âncoras de madeira
E pedras preciosas nos dentes
Um barco pacientemente à minha espera
Há um barco mendigo
Sentado à porta da igreja
Um barco para me levar
Até aos confins do invisível
Há um barco com asas
E sorriso nos lábios para me levar
Um barco fantasma
Doido nos corredores da enfermaria
Que passeia e passeia e passeia
Num cubículo de miséria
Pacientemente à minha espera
Há um barco com asas
E sorriso nos lábios para me levar
Há um barco zarolho
E com os braços a sangrar
Desejos nas paredes de vidro
Impaciente para me levar
Há um barco estacionado no infinito
Com âncoras de madeira
E pedras preciosas nos dentes
Um barco pacientemente à minha espera
Há um barco mendigo
Sentado à porta da igreja
Um barco para me levar
Até aos confins do invisível
Há um barco com asas
E sorriso nos lábios para me levar
Um barco fantasma
Doido nos corredores da enfermaria
Que passeia e passeia e passeia
Num cubículo de miséria
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