segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A minha vida

A minha vida
São linhas cruzadas suspensas na tela da solidão
Cores magoadas nas noites de tristeza
Quando abro a janela e nenhum sorriso à minha espera
A minha vida
A sombra complexa dos plátanos do outro lado da rua

A minha vida
Sem vida
Sem janelas
Nem telas
Nem cores…
A minha vida são linhas cruzadas suspensas na tela da solidão

Dois carris junto ao tejo
E um livro na mão

A minha vida
Sem vida
Sem janelas

A minha vida quando se transforma em maré
E engole os barcos da saudade
E mastiga os papagaios de papel das tardes de Luanda…
A minha vida
Maldita vida de linhas cruzadas
Numa tela vazia sem janelas sem portas com cores magoadas

A minha vida acorrentada às sombras do tejo
Numa esplanada amarrotada em copos de cerveja
E miúdas de minissaia que apressadamente galgam o vinte e oito
Desaparecem entre as nuvens da madrugada
Acordam na claraboia do sótão da primavera
E é assim a minha vida

Uma merda complexa disfarçada de plátanos
Do outro lado da rua
E uma esplanada amarrotada em copos de cerveja
Evapora-se no púbis do tejo

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

domingo, 18 de dezembro de 2011


59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

As tuas mãos transparentes

Sinto as tuas mãos transparentes
Quando poisam no meu rosto invisível
Sinto a tua voz
Amarrotada nos gemidos da noite
E se fixam aos meus lábios
Quando uma pétala de rosa
Voa sobre o silêncio engasgado da madrugada
E um rio solitário acorda em mim

E sinto as tuas mãos transparentes
Que chapinham no rio
As tuas mãos transparentes
Quando ancoram no meu peito de rocha cansada

Da tua voz
Os gemidos amarrotados da noite

Quando ancoram no meu peito de rocha cansada
As tuas mãos transparentes
E sinto
A tua voz
E sinto
As tuas mãos transparentes
Na vidraça do pôr-do-sol
Quando em mim se erguem os plátanos que leem poemas junto ao mar

O rio solitário esconde-se nas tuas mãos transparentes
E no meu rosto invisível
Sinto a tua voz
E no meu peito de rocha cansada
A vidraça do pôr-do-sol
Tomba na sombra dos plátanos

Que leem poemas junto ao mar