sábado, 31 de agosto de 2024

 

aqui sou feliz

aprendendo aos poucos,

lentamente

a ser feliz

 

cada vez te odeio mais, ranhosa manhã que alimenta os volantes tímidos dos motores em papelão, que pincelados de alegria,

se transformam em chuva

 

cada vez te odeio mais, ranhosa

água que se esconde dentro de um vidro, vidro esse, que no passado

era o meu rosto

vestido de noite

 

cada vez mais te odeio, ranhosinha

 

 

(primeira parvoíce do dia: odiar)

 

o método invisível de eu estar vivo, e caminhar sobre a sombra de um corpo envenenado pelo suicídio de uma espada,

sobre o meu peito

cruzo as mãos nas flores da alvorada, sou agora um pássaro que ama

e que é amado pela invisibilidade do silêncio

 

levito nos teus seios, caminho dentro da tua vagina, quando um fio de luz,

explode na minha mão

 

até agora, apenas algumas folhas de videira, que no cansaço da madrugada,

atiram pedras aos anjos

e às estrelas

 

e o teu corpo é uma nuvem de desejo,

nos lábios do mar

 

31/08/2024

 

conversas vaginais, algumas bugigangas e coisas inúteis, que se vendem na rua

o sono esconde-se nos teus mamilos, a maré em desejo traz a urja, cabeça boiando sobre a praia,

 

um gemido, teu, ergue-se até ao céu

mais parecendo um foguetão de areia

do que um uivo de prazer, quando gemes porque o poema tem o orgasmo nos teus olhos,

 

estrelas, estrelas de sémen percorrem as tuas coxas, rio envenenado

à procura do mar

 

no mar da tua vagina. sítios são arbustos

semeados na tua mão,

quando os teus lábios me beijam

Árvore

 

A árvore é branca, a árvore embaciada à janela da tarde, um olhar morre de aflição

a árvore dorme nas minhas mãos, escrevo amo-te no pavimento térreo da insónia, e este pássaro

mistura-se nas cores da alma

 

Este quadro faz-se homem, mexe-se aos poucos na noite, invento na paleta palavras para pincelar

este quadro

em amar os teus olhos

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

 

se uma pedra me tocasse

disfarçada de vento

vestida de gente

se uma pedra me falasse

me apedrejasse

quando nasce o dia

depois do lamento

que o poeta transforma em poesia

 

se uma pedra fosse uma lágrima, ou um pedaço de sémen da noite passada

se uma pedra escrevesse no meu sexo, na minha lentidão

palavras, pedras então

me falassem e não soubessem

o quanto distante é a madrugada

Dóceis, os teus lábios de mel

 

Dóceis, os teus lábios de mel
se nas mãos tens pedras
para me apedrejares
se nos olhos tens o lume
para me incendiares.

Dóceis, os teus lábios de mel
se na boca tens palavras
para me humilhares
se no cabelo tens o vento
para me acorrentares
à noite.

Dóceis, os teus lábios de mel
se no sorriso tens a insónia
para lançares na minha noite
a noite anterior.