conheço um jardim de prata
onde brinca uma menina de sabão
conheço um jardim de prata
com árvores de lata
e sem coração
conheço uma menina de prata
em círculos num jardim de sabão
com flores de poesia
e sem alegria
ao meio-dia
conheço um jardim de prata
onde dormem cigarros de mel
e sem alegria
ao meio-dia
as flores de poesia
fogem num barco de papel
quinta-feira, 24 de maio de 2012
o homem de sol
pareço um esqueleto com óculos de sol
um homem de madeira
que dança dentro de um relógio de pulso
aos soluços
quando começa a noite
pareço um esqueleto com óculos de sol
à procura de uma tenda de circo
e uma trapezista
em madeira
e que dança dentro de um relógio de pulso
e um rapaz simpático
que se veste de palhaço
quando não transporta o esqueleto
com óculos de sol
pareço
um homem de sol
com óculos de madeira
num esqueleto de pulso...
quando começa a noite
um homem de madeira
que dança dentro de um relógio de pulso
aos soluços
quando começa a noite
pareço um esqueleto com óculos de sol
à procura de uma tenda de circo
e uma trapezista
em madeira
e que dança dentro de um relógio de pulso
e um rapaz simpático
que se veste de palhaço
quando não transporta o esqueleto
com óculos de sol
pareço
um homem de sol
com óculos de madeira
num esqueleto de pulso...
quando começa a noite
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Sobreviver
Que chatice. Sempre as malditas pesquisas no Google sobre o meu nome: pinturas de Luís Fontinha; bibliografia de Luís Fontinha...; poesia de Luís Fontinha; textos de Luís Fontinha...
Confesso que começo a ficar farto deste gajo, eu, porque não sou pintor, porque não sou escritor, porque não sou poeta, porque não sou nada.
Faço uns desenhos esquisitos para sobreviver ao tédio, escrevo umas merdas sem sentido e pouco menos, e um texto meu foi escolhido por José Luís Peixoto. Quanto à bibliografia é curta e sucinta: nasci em Luanda/Angola, cometeram o erro de trazerem-me para Portugal, fui drogado há muitos anos e estou desempregado e não tenho dinheiro.
E quem não gostar que se f*da...
“Que mais eu podia desejar” como escreveu AL Berto... “não estou alegre nem apaixonado”.
terça-feira, 22 de maio de 2012
Fingidos amigos
Detesto sorrisos
dentes fingidos
noites perdidas
dias sem sabor
morangos sem açúcar
leite com café
detesto sorrisos
dentes fingidos
bocas amargas
detesto sorrisos
fingidos amigos
sentados à esplanada
detesto sorrisos
dentes fingidos
cabras com guizos
chibos
detesto sorrisos
dentes fingidos
livros de merda
palavras como eu
corpos de merda
à procura do céu
detesto sorrisos
dentes fingidos
fotografias com cor
poemas de amor
detesto sorrisos
dentes fingidos
madrugadas à janela
noites de merda
(detesto sorrisos
dentes fingidos)
fingidos amigos.
Ribeira desgovernada
Há sempre uma carteira
recheada
na algibeira de alguém,
há sempre uma ribeira
desgovernada
em terras de ninguém.
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