domingo, 15 de janeiro de 2012
Metade de mim
84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha
Metade de mim
Morta pela tempestade
A outra metade
Pendurada na parede de um quarto
Sem janelas
Para o mar,
Metade de mim
Carne podre
Pedacinhos de cartão amordaçados
No sangue da noite,
Metade de mim
Morta pela tempestade
A outra metade
Pendurada na parede de um quarto
Sem estrelas
Sem luz
Sem janelas
Para o mar,
Metade de mim…
À procura do cadáver
Da metade morta pela tempestade
Porque à metade pendurada na parede de um quarto
Falta-lhe a metade
A vontade
A saudade
À metade de mim
Sem vista para o mar
Sem janelas para o corredor
Depois de subir as escadas e alcançar a claraboia
Onde metade da metade de mim
Dorme abraçada a uma gaivota
E vem a noite
59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha
E vem a noite
E come-me os olhos e os braços
E come-me o coração,
E transformo-me numa tela negra
Semeada de lágrimas
E estrelas,
E vem a noite,
E tudo o que me pertence
Incluindo eu
Finíssimos grãos de poeira gatinhando no corredor
À procura de uma porta de saída,
À procura do dia.
sábado, 14 de janeiro de 2012
As lágrimas do tejo
Já alguma vez te disseram que tens o coiso grande As últimas palavras de Genoveva antes de abrir os braços e olhar para o céu e subir e subir e subir até se desfazer em pétala de rosa e transformar-se em estrela,
- O tejo em lágrimas,
E todas as noites a estrela brilha e brilha e brilha na janela da saudade e ele olha o mar e um cacilheiro amarrotado na solidão desfaz-se em pétala de rosa,
- Já alguma vez te disseram que tens o coiso grande,
O tejo em lágrimas nas mãos de Genoveva e antes de abrir os braços e antes de olhar para o céu e antes de subir e subir e subir… e antes de desfazer-se em pétala de rosa O tejo em lágrimas,
- O tejo em lágrimas nas mãos de Genoveva,
O coiso grande nas mãos de Genoveva e o mar desapareceu nos olhos da noite…
(texto de ficção)
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