domingo, 15 de janeiro de 2012

Metade de mim


84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

Metade de mim
Morta pela tempestade
A outra metade
Pendurada na parede de um quarto

Sem janelas
Para o mar,

Metade de mim
Carne podre
Pedacinhos de cartão amordaçados
No sangue da noite,

Metade de mim
Morta pela tempestade
A outra metade
Pendurada na parede de um quarto

Sem estrelas
Sem luz
Sem janelas
Para o mar,

Metade de mim…

À procura do cadáver
Da metade morta pela tempestade
Porque à metade pendurada na parede de um quarto
Falta-lhe a metade
A vontade
A saudade

À metade de mim
Sem vista para o mar

Sem janelas para o corredor
Depois de subir as escadas e alcançar a claraboia
Onde metade da metade de mim
Dorme abraçada a uma gaivota

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