sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Ilhargas do infinito
No fim da rua sem saída
Uma mesa e quatro cadeiras esperam por mim
Um rio amarrotado nas ilhargas do infinito me alcança
Como se eu fosse um pássaro doente
Ou uma criança
Como se eu fosse a sombra do jardim
Quando me olha e mente
E ao espelho da noite vejo a minha vida
Sem vida
No fim da rua sem saída
Três vultos invisíveis deitados na calçada
Antes de adormecerem
Fingindo viver
Viver sem madrugada
Fingindo sentados nas três cadeiras
À roda de uma mesa ensonada
Sem vida no fim da rua
Sem saída
Sem nada
Uma mesa e quatro cadeiras esperam por mim
Um rio amarrotado nas ilhargas do infinito me alcança
Como se eu fosse um pássaro doente
Ou uma criança
Como se eu fosse a sombra do jardim
Quando me olha e mente
E ao espelho da noite vejo a minha vida
Sem vida
No fim da rua sem saída
Três vultos invisíveis deitados na calçada
Antes de adormecerem
Fingindo viver
Viver sem madrugada
Fingindo sentados nas três cadeiras
À roda de uma mesa ensonada
Sem vida no fim da rua
Sem saída
Sem nada
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
As insónias do senhor Frutuoso
Dogma House
Leeuwarden, Netherlands
Um dia perceberás que esta casa não me faz feliz, que o dinheiro também não me faz feliz, um dia, um dia perceberás,
- Porquê Frutuoso?,
E tenho Insónias no casebre na montanha junto à ribeira como as terei certamente nesta casa, e um dia, um dia perceberás que cresci assim,
- Assim Miserável?,
Miserável dizes-me tu quando vem a noite e o silêncio ausenta-se de mim e não há dinheiro que chegue nem esta casa para trazerem-me de volta o barulho das palavras contra a mesa-de-cabeceira, ou quando abro a janela do casebre e ao longe vejo as nuvens docemente e sem pressa na minha direção, e ao longe o acenar de um petroleiro que desce o tejo até às profundezas da noite, a minha garganta abre-se e sinto o cheiro do inverno a degolar-me antes de adormecer, Percebes?
- Não Frutuoso Não percebo,
Um dia perceberás que esta casa não me faz feliz, que o dinheiro também não me faz feliz, um dia, um dia perceberás,
Que cresci habituado a meia dúzia de moedas na algibeira e com a cabeça recheada de sonhos, e com a cabeça sempre suspensa nas árvores quando caminho,
- Sim Frutuoso Quando caminhas…,
Quando caminho desesperadamente só e sobre o meu peito escrevem-se as lágrimas da solidão, e o sorriso das mangueiras não me deixam adormecer, e o meu triciclo às voltas e às voltas e às voltas na sombra das mangueiras,
- Porquê Frutuoso?,
E o meu quintal começa a inchar e ergue-se em direção ao sol, e chove, descem piedosamente finíssimas gotas de suor de um corpo mergulhado em desejo, o algodão doce que um cigano tenta impingir a miúdos distraídos evapora-se entre as sandálias do vagabundo e os anéis de um miserável,
- Um daqueles peneirentos que acredita que ter dinheiro é ter tudo?,
Acreditar não, É a verdade e tu sabes isso Um dia perceberás que esta casa não me faz feliz, que o dinheiro também não me faz feliz, um dia, um dia perceberás,
- E o que te faz feliz?,
Só o saberei depois de me explicarem o que é a felicidade, quando caminho desesperadamente só, às voltas na sombra das mangueiras e o cigano às apalpadelas nas sandálias do vagabundo quando percebe que o peneirento lambe o algodão que sobejou junto aos anéis,
- Não Frutuoso Não percebo,
O miúdo distraído choraminga ao imaginar o petroleiro que desce o tejo até às profundezas da noite, a garganta do miserável abre-se e o cheiro do inverno a degolar insónias antes de adormecer, Percebes?
- Não Frutuoso Não percebo,
Nem eu.
(texto de ficção)
Barco fantasma
Há um barco estacionado no infinito
Pacientemente à minha espera
Há um barco com asas
E sorriso nos lábios para me levar
Há um barco zarolho
E com os braços a sangrar
Desejos nas paredes de vidro
Impaciente para me levar
Há um barco estacionado no infinito
Com âncoras de madeira
E pedras preciosas nos dentes
Um barco pacientemente à minha espera
Há um barco mendigo
Sentado à porta da igreja
Um barco para me levar
Até aos confins do invisível
Há um barco com asas
E sorriso nos lábios para me levar
Um barco fantasma
Doido nos corredores da enfermaria
Que passeia e passeia e passeia
Num cubículo de miséria
Pacientemente à minha espera
Há um barco com asas
E sorriso nos lábios para me levar
Há um barco zarolho
E com os braços a sangrar
Desejos nas paredes de vidro
Impaciente para me levar
Há um barco estacionado no infinito
Com âncoras de madeira
E pedras preciosas nos dentes
Um barco pacientemente à minha espera
Há um barco mendigo
Sentado à porta da igreja
Um barco para me levar
Até aos confins do invisível
Há um barco com asas
E sorriso nos lábios para me levar
Um barco fantasma
Doido nos corredores da enfermaria
Que passeia e passeia e passeia
Num cubículo de miséria
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