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sábado, 31 de março de 2012

A abelha da noite

Uma abelha enormeeee poisada na lombada dos meus livros,
- E se a porta sempre cerrada, e se a janela sempre cerrada,
Uma abelha enormeeee disfarçada de palavras, deus travestido de abelha aos encontrões nos murmúrios da insónia, Será deus a testar o meu ateísmo?,
- E sabes… Não tenho coragem de a assassinar, e bastava lançar um simples cachimbo, e zás, deus, ou a abelha, quem quer que seja, tomba no silêncio cansado do fumo do meu cigarro,
(não devias fumar Meu filho)
E tanta coisa que eu não
- Não devia estar desempregado e estou, não devia escrever e escrevo, e se algum dia o cancro me visitar tratá-lo-ei como trato todas as pessoas que me procuram, com afeto, com carinho, ser simpático,
E fiz, e fui, e tanta coisa que eu não consigo perceber, não consegui entender a sombra das mangueiras, nunca percebi porque calcei o primeiro par de botas aos seis anos,
- E tão pesadas Meu filho,
Mãe O que são botas?,
- Não sei meu filho Eu e o teu pai nunca votamos na vida, alguém não deixa,
E tão pesadas, enormeeess como as âncoras dos navios estacionados no porto de Luanda, e eu Mãe, e eu também nunca calcei um par de botas, e os pés inchavam, e nas mãos as frieiras das manhãs de inverno, e sinto saudades das sandálias e dos calções,
- Não devias fumar Meu filho,
Semeavas no rosto um sorriso de primavera, Belém acordava junto ao rio, e nunca soube quem eras, via-te passar nas sombras do Texas, e eu olhava o teto, abelhas e travestis de mão dada alimentavam-se da seiva esbranquiçada da noite, e quando acordava sentia o mar dentro de mim, eu
- Um cacilheiro em círculos nas mãos da Marilú, um cacilheiro em círculos nas mãos da Gisela, eu em viagens pelo Tejo até me cansar,
Eu simplesmente impávido às cores da abelha vestida com silêncios e orgasmos de noite,
(escrevem no Google “Orgasmos Intensos” e poisam no meu blog)
Como se o meu blog fosse uma puta a fingir orgasmos entre copos e charros, como se o meu blog fosse um par de botas calçados pela primeira vez aos seis anos de idade,
- Semeavas no rosto um sorriso de primavera
(e o meu blog é uma puta séria, coletada e sindicalizada, e descansa ao domingo)
Via-te passar entre os carris que acordavam em Cais de Sodré e adormeciam em Belém, junto ao rio, não devia estar desempregado e estou, não devia escrever e escrevo, e se algum dia o cancro me visitar tratá-lo-ei como trato todas as pessoas que me procuram, com afeto, com carinho, ser simpático,
(escrevem no Google “Bares de Engate em Lisboa” e poisam no meu blog)
Como se o meu blog fosse um estabelecimento comercial, como se o meu blog fosse um corrupio de sexos pendurados nas janelas da lua,
E fiquei sem perceber se ele ou ela queriam engatar ou serem engatados, e fiquei sem perceber a sombra das mangueiras, e fiquei sem perceber porque calcei o primeiro par de botas aos seis anos,
Via-te passar,
- Não devias fumar Meu filho,
E fumo até me cansar como me cansei de andar vestido de cacilheiro em círculos no Tejo.
(Ganhei coragem e matei a abelha…)

(texto de ficção)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cabeça de xisto

A mulher flutua
Nas mãos do impostor
E o homem com cabeça de xisto
Traz na algibeira meia dúzia de côdeas
Três os quatro grãos de tristeza
E uma lanterna

A mulher nua
Nas mãos do impostor
Percorre as ruas da cidade
E a cada milímetro de cansaço
O homem com cabeça de xisto
Puxa dos cigarros
E na parede da solidão cola as frases emersas em fumo
E saliva do mar

Desce a noite
E abraça-se ao corpo nu da mulher
E da lanterna
Pingos de seiva caiem sobre a mesa da cozinha
Onde brinca uma toalha de linho
E pratos de flanela suspiram orgasmos literários…

A mulher flutua
Nas mãos do impostor
E o homem com cabeça de xisto

Morre.