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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O homem da “geada negra”


(desenho de Francisco Luís Fontinha – Agosto/2015)
 
 
Regressa o homem da “geada negra”,
Transporta no rosto o término do dia,
Prepara a bagagem para o passeio nocturno,
Pouca coisa leva ele…
Senta-se, puxa de um cigarro infeliz entranhado nas redes da paixão,
Acende-o, e imagina-se numa praia recheada de ninguém,
Desenha na areia a solidão da manhã,
Escreve na maré a desilusão da madrugada,
Não sabendo que a casa onde habitava… morreu,
Como morrem todas as casas,
Todos os livros
E todas as ruas da cidade imaginária,
 
Ouve um concerto de piano,
Pega no jornal… e depara-se com a sua fotografia na secção de… “desapareceu de sua casa…”,
Não acreditou,
Gritou,
Nem um pássaro para lhe afagar o cabelo,
Nem um barco para lhe enviar um simples “adeus”,
A vida comeu-o como ele comeu a vida
Estamos quites… “dizia ele”,
Nada devo à vida,
Nem a vida me deve nada…
Até que o relógio cessou de galgar as límpidas alvoradas de xisto,
E o homem da “geada negra”, hoje, dorme junto aos cardos abandonados.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 27 de Agosto de 2015