(o autor deste blog pede
desculpa aos seus leitores pelos poemas, texto e pinturas/desenhos de merda,
sem nexo, que vai publicando)
Foi à janela, correu o
cortinado e quando procurava um cigarro na algibeira para desassossegar as
palavras que trazia aprisionadas no pequeno bolso da camisa, junto ao peito,
percebeu que durante a noite alguém tinha furtado a estátua que sempre conheceu
em frente à sua casa.
Quem seria o autor de tal
acto, pensou ele. Quem queria ter em casa, se esta estátua depois de furtada
foi transportada para uma casa, a estátua de um poeta.
Eu por exemplo, não
queria.
E se ao menos fosse uma
estátua de carne e osso, de uma mulher… agora uma estátua em bronze, com um
tipo sentado numa pedra, segurando a cabeça para não cair devido à força da
gravidade,
E no vácuo, um pedregulho
e uma pena, deixados cair da mesma altura, caem ambos ao mesmo tempo.
Tal como a erecção, o
poeta enforcado descobriu, enquanto da janela, além de perceber que faltava a
estátua do poeta e ao longe se aproximava um grande paquete carregado de almas
em desejo, o poeta enforcado descobriu que Deus não percebia nada de
matemática, mas também para que Deus precisa de saber matemática se Deus não
trabalha, nada faz; trabalhou seis dias, descansou ao Domingo e de lá para cá…
vai andando por aí.
Correu os cortinados, foi
até à secretária, sentou-se e depois de abrir o portátil começou a desenhar em
palavras o poema da Erecção,
Erecção
Passeio os meus doces
dedos
Na fina e lívida tua pele
cerâmica.
Sinto nos meus dedos o
sono da manhã
Que abraçados aos teus
seios
Transportam o desejo em
direcção à lua.
Passeio os meus dedos
No teu corpo,
Nos teus lábios,
E desenho no teu ventre o
silêncio gemido
Das acácias em flor.
Passeio os meus dedos
Nas palavras que gritas,
Que gritas quando estás
embrulhada
Nos lençóis do prazer;
E do teu sorriso acorda
uma nova madrugada.
Porque Deus criou a
saudade, pergunto-me enquanto olho para a janela e nela aparece a sombra
cintilante da maré.
Ausento-me deste velho
corpo recheado de silvas, urtigas e lágrimas de sono, ausento-me das manhãs de
todos os dias e em todos os dias afogo as manhãs, das manhãs dos dias, escondo
a noite nas tuas coxas e sei que a saudade sempre estará à janela.
A lareira está a morrer,
como morrem todas as coisas; as visíveis e as invisíveis, as palavras, também
elas morrer, também elas sofrem dentro do cubo camuflado do desejo.
A erecção acorda,
ergue-se e levita nas margens cinzentas deste rio, e às vezes, a erecção do
sono que desce sobre as planícies que ditam ao silêncio esconde-se na mão de
Deus todo-poderoso, criador do céu e da terra, criador do pénis e da vagina,
criador do silêncio e da solidão, Deus, Deus criador da maçã e que fez com que
mais tarde Newton percebesse a existência da gravidade, e de gravidade em
gravidade, todos os dias, todas as noites, a erecção acorda; existirá erecção
no vácuo?
E a maçã?
Que tem a maçã, meu
parvalhão?
Comeu-a.
Comeu-a enquanto Adão
teve uma erecção.
(eis as merdas que
escrevo, eis as merdas que faço)
Alijó, 14/01/2023
Francisco Luís Fontinha