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sexta-feira, 21 de outubro de 2022

A princesa Lunar

 Abraça-se aos meus braços

A constelação de Apus.

Deita-se na minha mão trémula e fria,

Esta cansada caneta de tinta permanente,

E se eu quisesse voar,

Voava nas palavras perdidas,

Das sombras sem imaginação,

Onde se passeiam as lágrimas estrelares

Da Princesa Lunar; é tarde, meu amor,

Correm para mim as minguadas árvores

Dos teus silenciados cabelos…

E percebo que nos teus olhos

 

Habita a triste saudade.

Este livro que poisa na minha mão,

Arde, como ardem todos os livros que poisam na minha mão…

E do espelho onde escondo as estrelas em papal

Que recortava nas sombras de antigamente,

Um beijo de mar brinca na pequena gotícula de suor

Que dome na tua pele.

A jangada que nos permite atravessar

Esta Ribeira que apelidaram de Tranquilidade…

Engasga-se quando olha os teus lábios,

E descem sobre nós

Todos os pássaros da Primavera…

 

Cerramos os olhos,

Rezamos em frente ao altar do desejo

Para que o vento nos leve para longe;

A maré esfomeada, morre,

E do outro lado da montanha

Temos as pedras envenenadas da manhã,

Onde se sentam os alegres enforcados…

Tristes, as paredes que beijam as sombras

Que a noite lança sobre o teu corpo de espuma,

E mesmo assim, elevam-se sobre ti

As magoadas palavras do destino; as almas

Das tardes junto ao Mussulo… são hoje meia-dúzia de fotografias.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21/10/2022