Abraça-se aos meus braços
A constelação de Apus.
Deita-se na minha mão
trémula e fria,
Esta cansada caneta de
tinta permanente,
E se eu quisesse voar,
Voava nas palavras
perdidas,
Das sombras sem
imaginação,
Onde se passeiam as
lágrimas estrelares
Da Princesa Lunar; é
tarde, meu amor,
Correm para mim as
minguadas árvores
Dos teus silenciados
cabelos…
E percebo que nos teus
olhos
Habita a triste saudade.
Este livro que poisa na
minha mão,
Arde, como ardem todos os
livros que poisam na minha mão…
E do espelho onde escondo
as estrelas em papal
Que recortava nas sombras
de antigamente,
Um beijo de mar brinca na
pequena gotícula de suor
Que dome na tua pele.
A jangada que nos permite
atravessar
Esta Ribeira que
apelidaram de Tranquilidade…
Engasga-se quando olha os
teus lábios,
E descem sobre nós
Todos os pássaros da
Primavera…
Cerramos os olhos,
Rezamos em frente ao
altar do desejo
Para que o vento nos leve
para longe;
A maré esfomeada, morre,
E do outro lado da
montanha
Temos as pedras
envenenadas da manhã,
Onde se sentam os alegres
enforcados…
Tristes, as paredes que
beijam as sombras
Que a noite lança sobre o
teu corpo de espuma,
E mesmo assim, elevam-se
sobre ti
As magoadas palavras do
destino; as almas
Das tardes junto ao
Mussulo… são hoje meia-dúzia de fotografias.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 21/10/2022