terça-feira, 6 de setembro de 2022

Lábios madrugar

 

Percebo que nas cores dos meus desenhos

Habitam os teus lábios madrugar,

Que em cada palavra que escrevo

Há um barco sem marinheiro,

Há um marujo sem destino,

 

Percebo que neste mar

Onde habito,

Suicidam-se algas

E erguem-se as sonâmbulas sombras da insónia…

Percebo que nas cores dos meus desenhos

 

Escondem-se as paisagens da minha infância,

Com gaivotas, com papagaios em papel…

Percebo que estes desenhos

São as cores da morte,

São esqueletos em movimento,

 

São a manhã em despedida.

Percebo que estas cores

Transportam a montanha aprisionada

Na mão de uma criança,

Percebo que nos teus lábios madrugar

 

Há desenhos sem nome,

Há rios que não correm para o mar,

Percebo que nas cores dos meus desenhos

Há um Deus cruel,

Um Deus…

 

 

 

Alijó, 06/09/2022

Francisco Luís Fontinha

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