Deixei de escrever
Nos lábios da floresta.
Dos pássaros,
Regressam a mim
Os uivos apitos da
saudade,
Como se eu fosse uma
rocha indomável,
Disperso na manhã deserta
das gaivotas.
Sei que há nas palavras
Verdadeiras equações de
sono,
Versos invisíveis
Que durante a noite se transformam
em sílabas,
No poema envenenado.
Deixei de escrever
Nos lábios amargos da
floresta,
Os beijos nocturnos da
insónia;
- Adoráveis submundos nas
engrenagens da vida,
Ama-se. Mata-se.
Como se a vaidade fosse
um pressuposto
Infinito do homem.
Ama-se e inverte-se a
claridade lunar,
(e caso seja possível)
Ergue-se na humidade do
silêncio,
Entre beijos
E abraços aprisionados.
Almoça o sono
Uma sanduiche de medo,
Na companhia dos beijos
alicerçados à montanha do Adeus…
Ergue-se de mim e,
deita-se na sombra tristeza da cidade,
Todos os automóveis e todas
as rodas dentadas do passado,
Morrem de tédio; quantos aos
pássaros,
Construídos em papel,
Dançam as cantigas desta
triste caligrafia,
Que sublime e infinita,
Foge em direcção ao rio.
Deixei de escrever
Nos lábios da floresta,
E começo a guardar
retractos de sombras,
Que a memória vai
apagando,
Dia após dia,
Noite após noite;
E assim, vivo neste
habitáculo de espuma,
Esperando que dos
pássaros regressem a mim os uivos apitos da saudade.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 13/01/2022
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