Certa noite, enquanto o
poema sedução lia o poema em desejo, junto à lareira, o Rei mais desajeitado do
reino entra na sala e rapta o coração do poema sedução. O Rei desajeitado era
manco da sílaba esquerda e, enquanto deambulava pela sala em gritos histéricos
- Queimem a noite,
queimem a noite,
O poema em desejo
abraçou-se ao coração do poema sedução e segredou-lhe baixinho
- Não, não tenhas medo,
não, não tenhas medo,
O Rei desajeitado só
consegui ser Rei porque seu pai, também ele Rei, desajeitado, trocou o seu
irmão gémeo, uma hora mais velho, enquanto foi defecar, regressado, pensando
que pegava no seu primogénito, não
- Estamos fartos e a fome
é muita,
Batem à porta. O Rei e
seus compinchas ameaçaram o poema sedução e, caso não obedecesse, nunca mais
tinha o seu coração de volta,
- Queimem a noite,
queimem a noite,
Mas o coração do poema
sedução pertencia em palavras e versos ao poema Beijar, este, percebendo que a
sua amada poema sedução corria perigo, organizou um exército de poetas e, todos
juntos, construíram o livro e, fizeram frente ao Rei manco da sílaba esquerda e
dos seus compinchas,
- Amigos poetas, todos
juntos vamos salvar o coração do poema sedução,
E assim, todos em
conversa, combinaram a melhor estratégia para actuarem frente a tal assassino,
- Entramos na sala e
declamamos o poema,
Diz um,
- E se o Rei gostar de
poesia?
Argumenta outro,
- Tenho uma ideia,
- Sim, diz,
Escrevemos o poema e,
enquanto o declamamos, um de nós apaga a sílaba direita do Rei desajeitado,
- Que acham?
Combinado.
Rei desajeitado
Deste Reinado
Malvado,
És Rei de nome
Pai da fome,
És Rei sem Nação;
Vai malvado e deixa o
coração do poema sedução.
Achas que vai funcionar?
Talvez!
- Queimem a noite,
queimem a noite,
Em gritos histéricos o
Rei desajeitado,
Tinham de actuar com toda
a rapidez, pois o coração do poema sedução corria grande perigo.
Entraram na sala aos
gritos, declamando o poema:
“Rei desajeitado
Deste Reinado
Malvado,
És Rei de nome
Pai da fome,
És Rei sem Nação;
Vai malvado e deixa o
coração do poema sedução.”
Enquanto o Rei
desajeitado, muito assustado, porque nunca tinha enfrentado uma batalha de
poesia na sua vida, um dos poetas deita por terra a sílaba direita e, coitado
do Rei desajeitado, cai no soalho, neste caso, na página argamassa do poema.
O poema sedução ficou com
o seu coração e, o Rei malvado e desajeitado desapareceu do reino para dar
lugar a uma República a sério;
- Queimem a noite,
queimem a noite,
E nunca mais foi noite.
Parabéns, meu amor!
Alijó, 19/10/2021
Francisco Luís Fontinha
(ficção)
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