O
tempo alimenta-se dele, dei-me conta, há pouco tempo, quando o relógio de pulso
entrou em desespero e, em vez de mostrar as horas, começou, manhã cedo, a
pincelar-me o pulso com lágrimas.
Os
sonhos acordaram em mim quando pela janela observei uma flor em papel que ardia
no meu jardim; e dela dissipavam-se as quatro pedras da insónia.
O
poeta morre nas mãos daqueles onde semeou as palavras embebidas no nylon envenenado
pela tempestade,
Dizia-se
A
vagina é uma máquina fotográfica.
E
a tempestade foi andando, havia dias que pincelava o céu de um encarnado vivo,
sinal de riqueza pelo olhar das sílabas de uma Lisboa em fios de sangue. Colocaram-no
num jardim sem nome, vivia de esmolas e, vendia palavras embrulhadas em lábios
de medo, sabia que à sua volta, todos as tardes, um imbecil lhe segredava que a
terra é de quem a trabalha,
Pois.
E deixou escrito numa caixa em cartão
O
Fruto é de quem o colhe.
Abriram
o caixão e dentro dele apenas pedras, as quatro pedras da insónia. Antes de
morrer, escreveu na terra húmida de Luanda
Um
dia vou regressar.
Nada.
Nunca regressou e vomitou flores do átrio da igreja matriz.
Rezava
quantas vezes possíveis, comia as próprias palavras que escrevia, não sabia que
havia tantos imbecis nas catacumbas da insónia,
Como
recordo as quatro pedras,
Simples.
Corres
vivas,
Alimenta-se
do orvalho, caminha sobre as pedras finas da memória e, transforma sonhos em pesadelos,
pela manhã, ao acordar.
Sentava-se
sobre uma pedra de luz, lia AL Berto e Pacheco e, escreviam nas paredes da casa
de banho pública
O
gajo é louco.
A
ira, o tédio das tardes de Inverno e, mesmo assim, sobreviveu às quatro pedras
da insónia; triste, meu filho.
Triste,
meu pai; muito triste.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
19/08/2021
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