sexta-feira, 15 de março de 2019

A navalha do silêncio


A navalha com que assassinaste os meus límpidos lábios,

É a mesma com que acaricio as veias das palavras,

Um narciso, chora,

E, cresce a tarde na tua boca.

O peso do corpo na balança da solidão,

Regressa a morte,

E, levantam-se do chão calcinado, as andorinhas em flor.

Um narciso, chora.

O meu jardim está de luto,

Morreram todos os meus livros, todos.

Meu grande amigo, amanhã, Sábado, a navalha da solidão vai alicerçar-se no meu peito,

Sinto os cigarros que me assombram ao cair da noite,

E vou morrer…

 

A água da paixão, no tanque da saudade.

 

Deixa as árvores voarem sobre a aldeia,

Como pássaros em cio,

Vadios,

Em liberdade.

 

Nunca me ouves.

Nunca me abraçaste como abraças o meu silêncio,

Uma carta fica suspensa na mão do carteiro; Amas-me?

Não.

Claro que não.

 

O amor é uma merda.

 

Como eu,

E, as palavras minhas,

Poucas e apaixonadas,

Procuram, embriagadas,

As noites cansadas…

 

Como eu,

 

No amor teu.

 

Só.

Só.

 

E sinto o mar dentro de mim.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15/03/2019

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