quarta-feira, 2 de janeiro de 2019


(…)

 

 

A Poesia,

E eu igual ao espelho que vive no meu quarto e me acompanha nas manhãs de Primavera,

O teu corpo sempre igual, escultura abstracta da caligrafia envenenada pelo sexo embainhado nas canções de viver,

A Poesia...!

Morreu,

E o poeta...

Partíamos sem regresso, ouvia dos pulmões do paquete a respiração ofegante, a cidade desembrulhava-se do silêncio do mar como um rebuçado acabado de atracar ao cais da infância, só tínhamos um caixote com algumas recordações, retractos, poucos, e roupas...

E o poeta?

Trapos, restos de ossos, nas mãos o cansaço das sombras da aldeia acabada de se esconder dentro da eira granítica da solidão,

Partíamos...

Sem regresso, inventava a “mulher clitóris” e percebia que os Mão Morta pertenciam ao meu futuro, e que um dia

O Poeta?

Morreu, e que um dia mataria as horas e os minutos...

 

 

(…)

 

Francisco Luís Fontinha

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