terça-feira, 19 de abril de 2016

Sentido desespero


A ponte desesperada.

O silêncio amargurado das velhas esplanadas

Caindo do Céu como serpentes de aço

Voando sobre o cansaço

Das velhas madrugadas,

Morro de medo que apareça a tua mão no meu peito,

Fico sem jeito

E deixo de sentir a alvorada,

A ponte desesperada,

A ponte enigmática sobre o rio da solidão,

O peito na mão

Sem mão,

Esperada vaidade dos alicerces da cidade,

A ponte, desesperada; a infinita sombra do sufoco,

A chuva dos dias envergonhada pelas cintilações do medo,

E eu, e eu vou partir.

Vou deixar este caderno e esta esferográfica de carvão…

O meu testamento,

A minha vontade,

A garganta desafinada

Quando desce sobre mim a brisa do amanhecer,

Sinto o frio da saudade,

Sinto o calor do desejo

Na espuma dos dias ambíguos,

Ausentes de mim.

Atravesso o desassossego.

Morro enquanto lêem o poema da tristeza

Que atravessa a ponte

Dos transeuntes embriagados,

Sinto o fumo do teu corpo

Neste velho sótão sem nome,

Ao longe vejo a ponte desesperada,

E tal como eu, em frente ao espelho, também um desesperado apaixonado,

Um velho caixão de sombra

Descendo a calçada da morte,

Então a ponte está desesperada?

Ponte. O desespero da carnificina dos cadáveres cerâmicos,

Cacos, pedacinhos de algodão

Rompendo pelo sótão adentro.

A ponte desesperada,

O silêncio na ponte

Enquanto o meu corpo sente…

O desespero da ponte.

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 19 de Abril de 2016

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