domingo, 10 de janeiro de 2016

Sinfonia da loucura


Não acredito,

Meu amor,

Que as tuas noites ingrimes

Sejam o teu desejo,

Porque não tens desejo,

Porque desejo-te não me desejando,

Como as obscuras noites de Inverno,

Como as tristes planícies do Alentejo,

Camufladas pelos teus beijos,

Não acredito, meu amor,

Na geometria,

Na física

E na sinfonia da loucura,

Pareço-te um prisioneiro,

Na cancela do adeus,

Esperando os circunflexos odores da madrugada,

Perdi a alma,

Perdia a minha amada,

Não,

Não acredito na minha infância,

Nunca tive infância,

Amor,

Amar,

Desamar…

A flor,

O guindaste da solidão

Submerso na minha mão,

Só e só…

Não acredito,

Meu amor,

Nas jangadas de vidro

Que se deitam na nossa cama,

Que nunca a tivemos,

Imaginária

Dentro da cabeça de um louco,

Tu,

Eu,

Nós…

Na loucura das sílabas amordaçadas,

O pedestre menino enrolado nas finas folhas do prazer,

Os vigaristas poetas

Roubam-me a poesia,

Roubam-me as palavras,

E eu,

Eu… acorrentado aos teus lábios,

Em papel crepe,

Vermelho,

O cansado abutre

Vestido de alegria,

O cansado abutre

Vestido de dia,

Não,

Não meu amor,

Não acredito nos teus lençóis

Nem nas tuas mãos à volta do meu pescoço,

Fingida manhã,

Triste manhã do meu acordar,

E morrer,

Sem saber a amar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 10 de Janeiro de 2016

Sem comentários:

Enviar um comentário