terça-feira, 6 de outubro de 2015

Montanha do silêncio


Não,

Não venhas falar-me de amor,

Da paixão embriagada,

Entre noites,

E enxadas de geada,

Não, não meu amor…

Não,

Não venhas falar-me do mar quando fui eu que matei o mar em criança,

Não, não meu amor,

Não venhas falar-me desta cidade inacabada,

Só,

Sem pessoas ou madrugada…

Não,

Não pareço uma estátua,

Não,

Não sou um esqueleto de rosas perdidas num qualquer jardim,

E, e, no entanto, sinto-me envergonhado quando a noite se veste de despedida,

Os relógios pintam-se de vermelho,

O sangue do amor,

Dos automóveis em cio…

Ruelas, e o vício…

O vazio,

A escuridão dos seios entranhados na montanha do silêncio,

E os poemas,

Não,

Não venhas falar-me de amor,

Porque o amor…

O amor é uma enxada de geada.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 6 de Outubro de 2015

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