Pindéricos
esqueletos sobrevoando o pólen embriagado
marinheiros
raquíticos encostados ao mar salgado
esta vida de sangue
entranhada nas mandíbulas da cidade
este vento
envergonhado que se enforca nos meus abraços
os sinos da ferrugem
engatados numa ruela quadriculada
a tarde que se
afunda
e mata
nos estilhaços de
uma espingarda
as mulheres
procurando carícias debaixo das palmeiras
um poeta encardido
sentado numa
cadeira...
e ninguém... e
ninguém olha a ponte de nylon com cabeça de xisto,
O poeta enlouquece
e transforma-se em
pedacinho de poeira
não escreve porque
lhe falta a esplanada de Belém...
cerra hermeticamente
os olhos de areia
e... e ninguém...
e ninguém olha a
ponte de nylon
que o rio embala nas
noites de neblina
os pindéricos
esqueletos consumindo vodka falsificado...
os apitos de um
drogado
quando os carris de
aço desaguam em Cais do Sodré
e o magala
desgovernado
tomba... tomba
suavemente no pavimento florido,
O céu em chamas
dançando nas espinhas do almoço
o guardanapo
esbranquiçado poisado sobre o clitóris da esperança
gemem as sílabas
nas ruínas que a tua voz devastou
canso-me das marés
e desta cidade sem
escala
não encontro o fim
do sacrifício
que o poema me
obriga...
cambalhotas e
palhaços encerrados numa tenda clandestina...
solto-me
e grito
e saltito...
como o encharcado
luar no centro da tempestade...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 3 de
Novembro de 2014
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