terça-feira, 4 de novembro de 2014

As cartas não lidas


Este machimbombo rabugento subindo a calçada,
cá dentro, algumas insignificantes malas sem destino,
uma guitarra,
e um chapéu de palha...
partilhamos os abraços nos cadeirões ensonados,
algures... ouvem-se os pergaminhos nomes das cidades perdidas,
faltam-me os cigarros e os livros que deixei no apeadeiro da solidão,
um lenço de papel chega-me para escrever qualquer coisa parva,
como todas as coisas parvas que faço...
evito abrir os olhos porque do outro lado da rua, uma roda dentada,
sobrevoa as árvores cansadas do Outono,
e este machimbombo que não anda...

E este relógio que não pára...
sufocam-me as tuas palavras de viajante que sobejaram de uma carta não lida,
nunca leio as cartas que me escrevem...
também... deixei de escrever cartas,
porque são apenas pedaços de papel,
com... com falsas sílabas,
e prometidas aventuras,
amo apaixonadamente a noite,
a noite travestida de cinzento alento...
amo as pedras acabadas de tomar banho,
quando em finais de tarde...
acorda o moliceiro... e o meu corpo se transforma em machimbombo rabugento.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 4 de Novembro de 2014

Sem comentários:

Enviar um comentário