(Ao meu Pai)
Corre nas minhas
veias um enxame de saudade,
percebo pelo espelho
do guarda-roupa que existe sobre os meus ombros uma lâmina de
silêncio,
procuro nas lágrimas
do amanhecer a tempestade da insónia,
e sei que se abrir a
janela do cansaço...
um pássaro azul
poisará no meu olhar,
sinto-te triste,
amargurado...
desiludido como um
soldado,
quando a espingarda
lhe é apontada,
e parece que não
queres fugir,
apenas preferes
ficar sentado...
sentado a ver a Baía
de Luanda quando passeavas com uma criança,
e de mão dada...
lhe segredavas,
um dia, um dia meu
filho... vamos regressar,
eu, eu olhava o mar,
e... e acreditava,
imaginava-me um
marinheiro de cachimbo ao canto da boca,
sentia no meu corpo
os apitos da paixão,
pela terra,
pelas árvores...
pela cidade,
e inventava outros
meninos como eu...
que passeavam de mão
dada com a saudade,
e desde então...
nunca, nunca mais vi a Baía de Luanda!
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 17 de
Setembro de 2014
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