quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O circo das tempestades


O palhaço da roulote emagrecida,
na porta de entrada está crucificado o número vinte e três,
sem vizinhos para conversar,
o palhaço morre em pedacinhos...
e era feliz se morresse de vez,
silenciavam-se as vozes dos espectadores anónimos,
um punhado de palmas ficavam alegres,
e contentes,
e o circo transformava-se num círculo com anéis de prata falsificada,
há nos seus olhos a desilusão de um tardio amanhecer...
depois do espectáculo, entra na roulote, e acende a lareira da solidão,
e espera, e desespera... o regresso do novo dia,
o palhaço com botas de cansaço,
sonha subir até às estrelas que estão suspensas no tecto da dor,
um poeta também vestido de palhaço... inventa jardins de arame,
e locomotivas em cartão,
sofre,
sofre ele porque dentro da roulote nada mais existe do que a lareira da solidão,
chora,
e ele percebe que a vida é um espectáculo sem abrigo,
um homem desiludido com o circo das tempestades.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 18 de Setembro de 2014

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