Aos dias ímpares,
as horas que me são roubadas por uma mão sem nome,
as sílabas
disparadas pela espingarda das sanzalas embalsamadas,
o meu corpo não
cessa no púlpito do cansaço, ele evapora-se, ele... ele
transforma-se em zinco lamaçal,
há uma criança
inventada, uma criança perdida na saudade...
aos dias ímpares,
as horas malvadas,
que alimentam a dor,
que... que engolem
todos os amanheceres,
e do meu corpo,
apenas o coração de pedra ficou adormecido na eira da poesia,
Aos dias ímpares, o
triste calendário envergonhado,
a desassossegada
fantasia de um texto alienado, quando arde na fogueira da tua pele,
uma cidade nos
espera, uma cidade em papel...
Aos dias ímpares,
as horas, os minutos, e os... e os milésimos de segundo,
alguns em liberdade,
e outros... e outros acorrentados a um envelhecido veleiro,
hoje não há vento,
hoje... hoje apenas
a límpida tarde de pano a soluçar sobre as árvores do triângulo
equilátero,
é este o meu Mundo?
ter uma cidade sem
candeeiros em desejo,
ser filho de um
desenho que o tempo apagou numa longínqua parede,
e contento-me com
todos os dias ímpares, as horas que me são roubadas...
E a tua mão... e a
tua mão, um dia, terá um nome, idade, raça, sexo... religião,
Aos dias ímpares, a
geometria na doçura da caligrafia,
um poema morto, um
poema descendo a calçada em direcção ao infinito...
e o meu corpo não
cessa no púlpito do cansaço...
E o poeta
permanecerá eternamente nas sanzalas embalsamadas!
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Julho
de 2014
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