segunda-feira, 30 de junho de 2014

Regresso


Regressei,
poisei o pé na gare comovida pelo meu sorriso,
olhei,
ninguém à minha espera,
... quem poderia esperar por mim!
havia pássaros ao redor,
havia flores no jardim contíguo à estação,
olhei,
e nem uma míngua lágrima clandestina a voar sobre o meu peito,
havia um cão desnorteado,
talvez recheado de fome,
pancada... e carente de amor,

Toquei-lhe,
olhou-me,
e acolheu-me até hoje,

Regressei,
trazia nos ombros as almofadas do cansaço,
tinha nas mãos o silêncio dos morcegos e envenenados pela insónia,
toquei-lhes,
olharam-me,
e acolheram-me até hoje,
hoje,
hoje tenho um cão,
e... e meia dúzia de morcegos,
o cão envelheceu, o cão... o cão parece os gonzos de uma porta peneirenta,
de uma porta sem saída,
e os morcegos... esses... também eles carentes de amor...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 30 de Junho de 2014

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