domingo, 15 de junho de 2014

O vazio

foto de: Stéphane Spatafora Photographe

O vazio,
e falsas esperanças mergulhadas no buraco da solidão,
o vazio que se traveste de dor, o silêncio que embrulha o sofrimento,
este rio que são as tuas mãos, perdidas no musseque anónimo da paixão,
as crianças saltam até agarrarem as flores que habitam o tecto da noite,
vazio, sisudo... sentido proibido de amar,
o vazio imprevisto, descontínuo... o vazio agreste dos olhos da estátua de granito,
há sombras que embriagam os teus seios de porcelana e eles, eles a construir sorrisos desde...

(desde o último luar)

O amor,
também ele, vazio,
pobre,
ângulo obtuso quando alimentado pelo púbis da madrugada,

(hoje não corações, hoje não beijos – a esplanada recheada de vampiros)

O vazio,
homem rude, homem dos sete ofícios, o homem mendigo que descobriu a falsa esperança,
o fantasma,
o vazio dos telhados que a cidade ignora, despreza, que a cidade... não quer,

Que cidade é esta?

Vazia,
sem pessoas, sem imagens, sem..., sem nuvens,
o sombreiro carnívoro que devora todas as palavras que a tua pele transpira,
gotículas de poesia descendo o teu corpo, até que a falsa esperança ilumina o teu cabelo,
e sei que deixou de viver,
hoje... nada, a cidade provocadora, a cidade dos teus suspiros,
uma porta que se encerra, e morre, e levita,
a lanterna do Adeus, sempre acesa, sempre pronta a suicidar-te com os beijos de alvenaria cansada,

(hoje, hoje não)

Que cidade é esta?

(desde o último luar)

Que deixei de amar a espuma dos espelhos de amanhecer,
e sem o perceber,
descobri que a falsa esperança... que deixei de amar, não existe mais,
o vazio, o vazio corpo da sílaba encarnada...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Junho de 2014

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