foto de: A&M ART and Photos
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Uma casa,
pensava que o teu corpo se ausentava
das tardes de Primavera,
uma casa em ruínas cansada das ruas
sem saída,
uma casa em solidão, uma casa
acorrentada a esqueletos de insónia,
uma casa em desejo, que o desejo se
perdeu...
pensa eu,
uma casa só, triste, uma casa que se
entranhava nas frestas da madrugada,
uma casa de sorriso cor-de-rosa com
flores de papel,
e mesmo assim, tínhamos uma varanda
com acesso às estrelas,
sentávamos-nos sobre a mesa granítica
da paixão...
e sonhávamos... e, e dormíamos
pensava eu,
(pensava que o teu corpo se ausentava
das tardes de Primavera),
E esta casa sou eu,
um corpo flutuante no Oceano do
sofrimento, pinto nos teus olhos... pinto a dor,
e desenho no teu corpo, um outro corpo,
um corpo com fatias de xisto para te encobrir as pálpebras dos
nocturnos sótãos como melódicas sandálias de prata,
uma casa em forma de homem, uma casa,
eu,
pensava,
acreditava que a cidade era linda
quando acordava a noite,
descia a calçada, corria em direcção
a Cais do Sodré, e via o meu corpo, o meu corpo em formato de casa,
desabitada, límpida... com braços entrelaçados no luar,
com corredores mais longos do que a
própria morte,
uma casa, esta casa, a casa que sobejou
da tempestade,
sentada,
à mesa dispersa nos confinados
corações de espuma...
a casa que o meu corpo construiu nas
ardósia manhãs que o Inverno levou...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 4 de Março de 2014
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