sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Qualquer coisa - Que ela é o diamante dele

foto de: A&M ART and Photos

Tinhas um gosto qualquer, inexplicável, sabias-me a nafta e dei-me conta que não existo, sou uma sombra que vive dentro de um espelho, sou um lugarejo sem vida e perdidamente encalhado na serra, vivo fingindo viver, habito os corpos sem palavras, tenho asas, e voo, e durmo, e choro, e tenho sempre na algibeira as lágrimas da noite, invento coisas, coisas invisíveis, como pessoas, como árvores, como... ritmos de ninguém, excepto, excepto quando acordam as gaivotas dos pedaços silêncio que guardam as amendoeiras em flor, há uma ponte que me transporta, há uma vagão escuro sem janelas, que em noites de solidão, me acolhe, me alimenta, há mentiras vestidas de verdade, mentiras em lábios de espuma, marés invertidas, corpos suicidas como as lâminas finas dos orgasmos nocturnos, tinhas um gosto qualquer, inexplicável, sabias-me a coisas amargas, distantes, coisas sem significado, coisas abstractas, fúteis como as tuas mãos, coisas
Ainda existem as palmeiras?
Coisas intransponíveis, coisas apenas, indisponíveis, indigesta, alimentos vagabundos que o vizinho de quarto esquerdo deixa todas as noite à entrada da porta, lá dentro, oiço-o em conversas fictícias, conversas... conversas parvas, que a ama
Amo-te querida,
Que ela é o diamante dele
És o meu diamante, minha querida,
(que treta)
Falhados, fúteis, lamechas, queixinhas,
(que treta)
Amo-te,
Coisas intransponíveis, coisas apenas, indisponíveis, indigesta, alimentos vagabundos que o vizinho de quarto esquerdo deixa todas as noite à entrada da porta, lá dentro, oiço-o em conversas fictícias, conversas... conversas parvas, que a ama, que dava a vida por ela, que...
Palhaço,
(Sair, beber um copo, esquecer que vives e habitas no Bairro Madame Berman)
Que se cada toque que recebo no Facebook correspondesse a um euro... porra, não fazia nada, nada, nem tão pouco escrevia, que se ela regressar, eu fujo, escondo-me na sanzala onde nasci, juro, escondo-me num charco depois das chuva que sobejou no musseque, subo para o telhado, sento-me sobre o zinco, e não desço, e não regresso, apenas se ela me prometer que não voltará nunca, jamais, eu, percebo que sou uma ponte alérgica aos automóveis, apenas sobre mim andam velhinhos e velhinhas e criancinhas, nada mais do que isso, nada mais do que ontem, porque hoje,
Palhaço, eu, eu sim!
(cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado)
Palhaço, eu, eu sim!

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

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