foto de: A&M ART and Photos
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Tinhas um gosto qualquer, inexplicável, sabias-me a
nafta e dei-me conta que não existo, sou uma sombra que vive dentro
de um espelho, sou um lugarejo sem vida e perdidamente encalhado na
serra, vivo fingindo viver, habito os corpos sem palavras, tenho
asas, e voo, e durmo, e choro, e tenho sempre na algibeira as
lágrimas da noite, invento coisas, coisas invisíveis, como pessoas,
como árvores, como... ritmos de ninguém, excepto, excepto quando
acordam as gaivotas dos pedaços silêncio que guardam as amendoeiras
em flor, há uma ponte que me transporta, há uma vagão escuro sem
janelas, que em noites de solidão, me acolhe, me alimenta, há
mentiras vestidas de verdade, mentiras em lábios de espuma, marés
invertidas, corpos suicidas como as lâminas finas dos orgasmos
nocturnos, tinhas um gosto qualquer, inexplicável, sabias-me a
coisas amargas, distantes, coisas sem significado, coisas abstractas,
fúteis como as tuas mãos, coisas
Ainda existem as palmeiras?
Coisas intransponíveis, coisas apenas,
indisponíveis, indigesta, alimentos vagabundos que o vizinho de
quarto esquerdo deixa todas as noite à entrada da porta, lá dentro,
oiço-o em conversas fictícias, conversas... conversas parvas, que a
ama
Amo-te querida,
Que ela é o diamante dele
És o meu diamante, minha querida,
(que treta)
Falhados, fúteis, lamechas, queixinhas,
(que treta)
Amo-te,
Coisas intransponíveis, coisas apenas,
indisponíveis, indigesta, alimentos vagabundos que o vizinho de
quarto esquerdo deixa todas as noite à entrada da porta, lá dentro,
oiço-o em conversas fictícias, conversas... conversas parvas, que a
ama, que dava a vida por ela, que...
Palhaço,
(Sair, beber um copo, esquecer que vives e habitas
no Bairro Madame Berman)
Que se cada toque que recebo no Facebook
correspondesse a um euro... porra, não fazia nada, nada, nem tão
pouco escrevia, que se ela regressar, eu fujo, escondo-me na sanzala
onde nasci, juro, escondo-me num charco depois das chuva que sobejou
no musseque, subo para o telhado, sento-me sobre o zinco, e não
desço, e não regresso, apenas se ela me prometer que não voltará
nunca, jamais, eu, percebo que sou uma ponte alérgica aos
automóveis, apenas sobre mim andam velhinhos e velhinhas e
criancinhas, nada mais do que isso, nada mais do que ontem, porque
hoje,
Palhaço, eu, eu sim!
(cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto,
cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado,
cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado,
cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me,
fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me,
farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto,
cansado, cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado,
cansado, cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado,
cansei-me, fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me,
fartei-me, farto, farto, cansado, cansado, cansei-me, fartei-me,
farto, farto, cansado, cansado)
Palhaço, eu, eu sim!
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
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